sábado, 7 de junho de 2008

SEJA REALISTA: FAÇA O IMPOSSÍVEL! *









A trepidante década de 1960 - sobretudo a partir de 1965 - apresentou como símbolo uma palavra presente em textos, manifestos, panfletos e no dia-a-dia da juventude, que encabeçou o processo de mudanças. A palavra era revolução.
Antes de mais nada, uma revolução de costumes, liderada principalmente por jovens que se rebelavam contra o formalismo e a rigidez de uma sociedade ainda autoritária e repressora. Baseavam-se em um sentimento de repulsa pelo mundo de seus pais. Em pouco anos, tabus morais desabaram, valores seculares foram questionados e novos padrões de existência se impuseram. O conflito de gerações era inevitável: pais e filhos não se entendiam mais. O sonho de todo o rapaz, (e de toda a moça) era fugir de casa e viver livremente num mundo que parecia esperar esta ruptura juvenil, com ofertas de paz, amor, sexo e autonomia existencial.
Fato decisivo para esta revolução nos costumes foi a emancipação feminina. Condenadas até então, em sua maioria, a se tornarem "rainhas do lar", as mulheres começaram a ingressar no mercado de trabalho e experimentaram uma liberdade desconhecida que só um salário poderia lhes propiciar. A família patriarcal iniciava a sua derrocada.
À grande virada nos costumes acrescentou-se a revolução política. Os emblemas guerrilheiros - sintetizados na figura mítica de Che Guevara - seduziram os estudantes dos países do III Mundo, da mesma forma que o pacifismo atraiu os norte-americanos envolvidos na Guerra do Vietnã. Nas universidades e colégios não se fazia outra coisa senão política. O movimento estudantil representava a vanguarda nos protestos por todo o mundo. Os célebres acontecimentos de maio de 1968, que sacudiram a França, e constituem ainda hoje uma legenda, nasceram sob o influxo de um lema que simbolizava perfeitamente aqueles tempos: "É proibido proibir." No caso do Brasil. o regime militar convertera-se no principal inimigo dos estudantes. A ditadura, de certa forma, significava a continuidade, no espaço público, do autoritarismo da casa paterna. Combatê-la era também combater a família conservadora e tradicional.
Igualmente formidável foi a revolução cultural. A "alta cultura" (artes plásticas, literatura, música erudita) - até então modelar - cedeu espaço a uma cultura contestadora e pouco requintada, dirigida às grandes massas juvenis, e cuja principal expressão era a "música pop". Esta logo foi incorporada à poderosa "indústria cultural". A MPB seduziu o público universitário; os jovens compositores apoiavam-se na vertente lírica da nostalgia e do canto amoroso. Ao mesmo tempo, elaboravam canções de protesto contra o regime militar através de mensagens poéticas que insistiam na proximidade da "aurora", do "amanhã", do "carnaval", tomados todos estes elementos como metáforas de uma nova ordem que logo viria, destruindo a ditadura. Entre outros integraram a referida corrente Chico Buarque, Geraldo Vandré, Sérgio Ricardo, Edu Lobo e, por curto tempo, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Porem, de todas as manifestações culturais do período, a mais polêmica foi a do Tropicalismo. Aparecendo na música popular em 1967-1968, o Tropicalismo representou uma espécie de síntese entre vários movimentos artísticos dos 60 e mesmo da vanguarda de 1922. Entre as influências próximas, Caetano Veloso - o líder da Tropicália - identificou as estranhas instalações (artes plásticas) de Hélio Oiticica; a explosiva montagem de O rei da vela (1966), de Oswald de Andrade, que José Celso Martinez Correia pôs em cena; o delírio barroco de Terra em transe, o filme político por excelência de Glauber Rocha; e a poesia concreta paulista


postado por: LUCIANA DA SILVA BORDOAN E ANNE CAROLINE DE MORAES

* frase retirada de um dos slogans dos estudantes no maio de 1968 francês

Nenhum comentário: