domingo, 8 de junho de 2008

1968, O ANO QUE DERRUBOU A LITERATURA*

Antes de explicar o motivo desse título, falemos um pouco do contexto de 1968: no auge de suas carreiras estavam escritores como Manuel Bandeira, Jorge Amado, Erico Veríssimo, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Mario Quintana, ufa...
Já deu pra perceber que não estamos falando de pouca coisa... pelo contrário, “considerada como conjunto, essa época não tem nada do mesmo nível em qualquer outro momento da vida do país e mesmo da língua portuguesa. Em todos os gêneros a literatura estava muito bem servida.”
A qualidade de tudo que era produzido no momento era grande assim como a expectativa que girava em torno do período: com todo esse movimento, esperava-se a “produção” de leitores que pudessem desfrutar de tudo isso.
Mas, voltando ao título, o que se vê é um país que ainda sofre consequências do golpe de 64 e sua reforma no ensino, e, como não bastasse, tem-se na TV e nas canções mais jovens, mais populares, como o rock dos Beatles, a bossa-nova de Jobim, o samba de Paulinho da Viola, algo que supre a necessidade cultural e literária da população.
“A literatura (de livro) perdeu terreno, ou ao menos deixou de ganhar, o que é uma lástima, vistas as coisas do ângulo da cultura exigente e do debate crítico; mas perdeu para duas modalidades artísticas de grande interesse, que em seus melhores momentos se mostraram capazes de expressar profundamente a vida de nosso tempo e de nosso lugar, o que é um ganho, do ponto de vista da dinâmica real da vida cultural. No fim das contas literatura de livro não morreu, e aliás até recobrou força no fim do ciclo autoritário de 1964, quando, junto com a canção e a telenovela, repensou o país.”
E lá se vão 40 anos de 1968, quando muitos movimentos são pensados na intenção de retomar esse período: as editoras aproveitam a data redonda para despejar obras com reflexões sobre a época. Pesquisadores se mobilizam para tentar dar visões inovadoras em seminários acadêmicos. Os muitos participantes dos movimentos que transformaram aquele num ano singular da História suspiram com o turbilhão de sentimentos que as lembranças trazem.
“Não estamos no melhor dos mundos, por certo; mas creio que o legado real de 1968 obriga a espantar as ilusões e reinventar nosso lugar no mundo.”


* Título e citações de Luís Augusto Fischer. Professor, Doutor em Letras e escritor.

Postado por Flaviana dos Santos Anselmo

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