segunda-feira, 23 de junho de 2008

Carlos Drummond de Andrade e seu olhar para o passado em 1968

Em 28 de março de 1968, Edson Luis, estudante secundarista carioca, foi morto numa operação policial de repressão a um protesto em frente ao restaurante universitário “Calabouço”. Deu-se uma comoção nacional que mobilizou, no enterro do jovem, uma multidão de 50 mil pessoas.
A partir desse momento, o Brasil entraria nos dez meses mais tensos e convulsionados da sua história desde o pós-guerra. A insatisfação da juventude universitária com o Regime Militar de 1964 recebeu adesão de escritores e pessoas ligadas ao teatro e ao cinema perseguidos pela censura. As principais capitais do país, principalmente Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, em pouco tempo se tornaram praça de guerra onde estudantes e policiais se enfrentavam quase que diariamente. Cada ação repressora mais excitava a juventude à oposição. Naquela altura apenas os estudantes enfrentavam o regime, pois os líderes civis da Frente Ampla (Carlos Lacerda, JK e João Goulart) haviam sido cassados.
Em outubro, ao organizar clandestinamente o 30º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), o movimento estudantil praticamente se suicidou. Descobertos em Ibiúna, no interior de São Paulo, 1200 foram presos. Como coroamento do desastre, o regime militar sob chefia do General Costa e Silva, decretou, em 13 de dezembro, o AI-5.
Para quem vinha com os sonhos de país grande e desenvolvido, que estava em vias de generalizar a educação básica para todos, fazer a reforma agrária que tiraria o campo da Idade Média, hospedar e desenvolver a indústria moderna, esse golpe e sua conseqüentes represálias foram um golpe quase letal, percebido principalmente na Literatura.
Se considerarmos que na década de 1960 o Brasil acompanhava ao vivo o auge da carreira e do talento de escritores como Manuel Bandeira, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Mario Quintana, entre outros.
O que essa gente representava, vista à distância de mais de 40 anos, era a esperança, quase a certeza, de que, estando maduros em matéria de produção literária, poderíamos esperar maturidade também na outra ponta do processo, a leitura, a criação e o desenvolvimento de leitores, massas de leitores, para usufruir tal e tamanha qualidade. As gerações em atuação naquele momento, somadas ao patrimônio anterior já produzido na língua - Camões, Vieira, Machado, Fernando Pessoa, Graciliano - , nos autorizava a sonhar com uma comunidade real de leitores, que deixaria no passado as terríveis sombras sociais que por tanto tempo excluíram a população do ensino, da leitura, da inteligência formal.
Mas veio o Golpe de 64, que em 1968 ganharia contornos mais restritivos ainda contra o exercício da inteligência. Nesse contexto, alguns escritores como por exemplo João Cabral de Melo Neto é perseguido por ousar não se enquadrar na censura, outros preferem sair do país, como Murilo Mendes e ainda existem os que resolvem não falar do momento em que se encontram e sim voltar-se para o passado, como é o caso de Carlos Drummond de Andrade.
Em 68, Drummond publica Boitempo, livro de recordações poéticas da infância, um momento em que o menino faz a passagem do mundo rural para o colégio interno. A roça está representada no boi, um animal calmo, que rumina indefinidamente os alimentos, simbolizando também a própria condição memoralística deste “eu” que não termina nunca de digerir suas recordações.
Muitos poemas de Drummond funcionam como denúncia da opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra. A temática social, resultante de uma visão dolorosa e penetrante da realidade, predomina em Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945), obras que não fogem a uma tendência observável em todo o mundo, na época: a literatura comprometida com a denúncia da ascensão do nazi-fascismo. A consciência do tenso momento histórico produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida, pergunta para a qual o poeta só encontra uma resposta pessimista.
O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond e sempre como antítese para uma realidade presente. A terra natal - Itabira - transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta. E é justamente esse passado que invade a sua obra, e é essa Itabira que serve como válvula de escape para ele não falar do período crítico em que vive em 68.
Nos primeiros livros, a ironia predominava na observação desse passado; mais tarde, o que vale são as impressões gravadas na memória. Transformar essas impressões em poemas significa reinterpretar o passado com novos olhos. O tom agora é afetuoso, não mais irônico. Da análise de sua experiência individual, da convivência com outros homens e do momento histórico, resulta a constatação de que o ser humano luta sempre para sair do isolamento, da solidão.
Não que as produções literárias desse período sejam medíocres, elas só não tem o objetivo de se comprometer, de serem contestatórias do sistema. E justamente por isso o título ser “o ano que derrubou a literatura” no sentido de que não temos grandes obras que retratam o período, evidenciando a grande censura e conseqüente perseguição aos artistas mais ousados.
Drummond é crítico ao tratar da opressão que marcou a Segunda Guerra Mundial, pois por mais que o Brasil tenha sentido as conseqüências, sua obra não sofreria retaliações, fato que muda com o golpe militar e que fica bem claro na postura adotada em 1968.
A literatura precisa de liberdade, calar o poeta é cegar os leitores, é ocultar das futuras gerações o passado que eles receberam de herança. Apesar de se considerar 1968 como o ano que não acabou devido a uma série de resquícios que perduram até hoje, não podemos voltar ao passado, pois nos é precária uma literatura-reportagem, um retrato da sociedade e dos grandes cérebros da época. E a isso só nos resta lamentar.

Por Suzane Pacheco Martins Pereira

segunda-feira, 16 de junho de 2008

JOÃO GUIMARÃES ROSA (1908-1967)

Grande renovador da prosa de ficção, João Guimarães Rosa marcou profundamente a literatura brasileira. Nascido na cidade de Cordisburgo (MG), formou-se em Medicina na cidade de Belo Horizonte (1930). Após clinicar algum tempo nos confins do Estado mineiro, onde aprendeu os segredos e as falas do sertão que marcariam sua obra, entrou para a carreira diplomática (1934), indo servir em Hamburgo, Baden-Baden, Lisboa, Bogotá e Paris. Dividido entre a literatura e a carreira diplomática, fez longas viagens pelo interior de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia, anotando os maneirismos de fala de jagunços, vaqueiros, prostitutas e beatas colhidos em conversas. Assim revolucionou a prosa brasileira e foi aclamado pelo público e pelos críticos ao escrever seu primeiro livro de contos: Sagarana (1946).
Combinando o erudito com o arcaico e com as expressões populares, transformou a semântica, subverteu a sintaxe e apresentou ao leitor quase um novo idioma para contar as histórias da gente do sertão. Mais tarde publicou Corpo de Baile (1956), um conjunto de sete novelas, e o livro mais polêmico da literatura brasileira do século XX – Grande Sertão: Veredas (1956). Na construção da personagem principal (Riobaldo), fundiu o cotidiano com o requintado, o regional com o erudito, o folclore com a cultura livresca, o real com o fantástico e superou o regionalimo ao compor, numa narrativa épica/mítica, a própria condição humana. Ainda vieram Primeiras Histórias (1962), reunindo 21 contos curtos, e Tutaméia (1967), conjunto de 40 contos. Faleceu no Rio de Janeiro, três dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras. Posse esta que sempre adiara, temendo a emoção de vestir o fardão da Academia.
Os poemas foram selecionados do primeiro livro do autor – Magma –, escrito em 1936 e editado em 1997, pela Ed. Nova Fronteira, no Rio de Janeiro.

MADRIGAL( GUIMARÃES ROSA )
No tronco do jequitibá,que estavas abraçando,colando-lhe o corpo, do rostinho aos pés,vejo os arranhões fundo,onde o canguçu, quase de pé,afia as garras,e, mais embaixo, a casca estraçalhada,onde os caititus vêm acerar os dentes...

Por Daniela Avelar de Souza

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A Influência da Música da Literatura e do Filme na Sociedade.


Quando surgiu a publicação de livros impressos ou seja o avanço tecnológico, facilitou a propagação de ideias, porque antes os livros eram escritos a mão, a vida mudou . Poderíamos ter varias copias de um mesmo exemplar, nem toda sociedade teve acesso a materiais da época , na qual ficava restrita a uma camada social mais elevada.

Com passar dos tempos todas as camadas puderam ter contado com todo e qualquer tipo de informação. Inclusive eles foram usados para construir um movimento de propagar ideias contra o militarismo, a censura , ou seja, contra qualquer tipo de opressão com a sociedade.

Em 1968, tivemos essas manifestações muito nítidas com diversos cantores, diretores de cinema e escritores. Todos visavam a liberdade, não só de expressão. Mas de um governo que limitava todo e qualquer ato , exilando aqueles que eram contra qualquer pensamento estabelecido pelos militares. Foram feitas músicas, filmes e livros.

Glauber rocha que dirigiu o filme "Terra em Transe", premiado em Cannes , mostrava fielmente a situação que se encontrava o Brasil, com a sua miséria, a injustiça e a corrupção. Tudo isso foi intencional.

Quando assistiu o filme essa mesma realidade é a que vivemos hoje. Parece que tudo continuou o mesmo. Vivemos em uma sociedade que poucos falam, muitos ainda se calam e não lutam por seus direitos.
Ele acabou sendo exilado como Caetano Veloso e Gilberto Gil que também fizeram o slogan "É Proibido Proibir " e "Alegria, Alegria" virando um hino contra o governo militar.


A música chegava ate os estudantes e ao povo.. O cinema era uma forma de mostrar entre uma ficção uma realidade.

Hoje temos lutas, talvez mais fracas do que em 1968 mas lutamos e estudamos por um país melhor com menos desigualdades e impunidades, mas ainda encontramos um país corrupto uma universidade desvalorizada, miséria, má distribuição de renda, igual o melhor que 1968. Devemos seguir o exemplo dos estudantes do passado e lutar...

Postado por: Suenne Briggs

terça-feira, 10 de junho de 2008

Juventude revolucionária: o ideário de 68 e a força hip hop


O ano de 68 é citado como ano da “conquista da liberdade”. Sem dúvida, este ano emblemático resultou em grandes conquistas para a sociedade ocidental, as quais são conseqüências da luta pela igualdade entre homens e mulheres, pelos direitos dos gays, pela igualdade entre negros e brancos, pela valorização das crianças, pelo direito ao divórcio, pelos direitos do trabalhador, pelas reformas na educação, pela liberdade sexual e pela democracia. Atualmente a sociedade reconhece os ganhos obtidos através de todas essas bandeiras levantadas naquela época, mas há quem diga que não existem mais bandeiras sendo defendidas.

Pode-se considerar 68 um ano paradoxal, pois, em meio a ditadura e toda a repressão representada por esse sistema de governo, via-se posicionamentos políticos e lutas por causas libertárias. Esse paradoxo leva a crer que o regime ditatorial da época foi um estímulo para se pensar na coletividade. Talvez o pensamento coletivo só tenha sido possível porque as preocupações individuais eram semelhantes. Possivelmente o homem de 68 viveu o período das utopias porque lutava por aquilo que é caro a todos os homens: a liberdade. Por que não acreditar que a busca de cada cidadão pela sua própria libertação tenha possibilitado o pensamento e as ações coletivas? Mas, apesar de ter gerado muitas conquistas à sociedade, a intensa defesa da liberdade pode ter sido responsável pela libertação inconseqüente que se vê nos dias de hoje, ou seja, pela falta de limites, pelas atrocidades, pela banalização da morte e do desrespeito ao próximo.

Com o término da ditadura, a democracia passou a ser vista, cada vez mais, como sistema representante da liberdade, porém, esse sistema de governo não corresponde às expectativas da juventude de 68. Em se tratando da educação brasileira, por exemplo, não se pode dizer que esta é libertária. O sistema educacional ainda auxilia a manter as mesmas relações de poder e funciona como uma mercadoria, uma forma de ingresso no mercado de trabalho, ao invés de funcionar como um meio de acesso à cultura, aos direitos dos cidadãos e às possibilidades de mudanças sociais. A falta de crença no regime democrático e a não existência de um inimigo comum, que antes era representado pela ditadura, leva ao pensamento de que as revoluções ou as reivindicações foram deixadas de lado, porém, existem movimentos atuais que não permitem que o desejo de liberdade e que a vontade de tornar a sociedade mais igual e mais humana morram. Entre esses movimentos está o hip hop.

Os anos de 1967 e 1968 representaram o auge dos festivais da canção no Brasil, que eram formas alternativas de expressão político-ideológica da juventude. A música era um meio de divulgação do ideário simbolizado pelo ano de 68, e de protesto diante da repressão da ditadura militar. Ainda hoje, vê-se que a música é uma poderosa arma de reivindicação. Em vista disso, é válido analisar e contrapor dois perfis de protesto: a música de 68 e a música do movimento hip hop.

Para este artigo, escolheu-se analisar brevemente as canções Apesar de você, de Chico Buarque, lançada em 1970 e Fogo no pavio, do rapper Gog, de Brasília, que difundiram as causas da luta dos jovens dessas duas épocas.




Apesar de você (Chico Buarque)

Hoje você é quem manda / Falou, tá falado / Não tem discussão, não / A minha gente hoje anda /Falando de lado / E olhando pro chão, viu/ Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda escuridão / Você que inventou o pecado / Esqueceu-se de inventar / O perdão

Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Eu pergunto a você / Onde vai se esconder / Da enorme euforia / Como vai proibir / Quando o galo insistir / Em cantar / Água nova brotando / E a gente se amando / Sem parar

Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros, juro / Todo esse amor reprimido / Esse grito contido / Esse samba no escuro / Você que inventou a tristeza / Ora, tenha a fineza / De desinventar / Você vai pagar e é dobrado / Cada lágrima rolada / Nesse meu penar Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / 'Inda pago pra ver / O jardim florescer / Qual você não queria / Você vai se amargar / Vendo o dia raiar / Sem lhe pedir licença / E eu vou morrer de rir / Que esse dia há de vir / Antes do que você pensa

Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Você vai ter que ver / A manhã renascer / E esbanjar poesia / Como vai se explicar / Vendo o céu clarear / De repente, impunemente / Como vai abafar / Nosso coro a cantar / Na sua frente / Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Você vai se dar mal / Et cetera e tal, lá laiá la laiá lá ...


A música de Chico Buarque é uma reação contra a ditadura. Pode-se observar, nessa letra, pistas que revelam o tema da canção e o ideal do autor. A começar pelo título “Apesar de você”, é possível inferir que “você” diz respeito ao regime militar ditatorial da época.

Na primeira estrofe o verbo “mandar” reflete uma prática comum da ditadura. Após esse verbo ainda se vê outras pistas que remetem a esse sistema de governo, como os versos “Falou, tá falado / Não tem discussão, não”. Esses dois versos demonstram a falta de liberdade de expressão ou a impossibilidade de uma contra-argumentação no momento. Ainda na primeira estrofe, os versos “Falando de lado / E olhando pro chão, viu”, criam uma imagem do comportamento dos brasileiros que viveram nesse período. A imagem criada retrata o medo e a submissão daqueles cidadãos ao regime.

O refrão “Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia” demonstra que a canção expressa motivação e esperança em relação ao fim daquele sistema de governo.

Na segunda estrofe vale ressaltar os versos “Como vai proibir quando o galo insistir/ Em cantar”, pois esses expressam pistas importantes ao contexto da ditadura. O verbo “proibir” faz referência a uma prática do regime ditatorial em relação à liberdade de expressão, a qual é traduzida por “quando o galo cantar”. Ainda nessa estrofe, nos versos “Água nova brotando/ E a gente se amando/ Sem parar”, o primeiro verso pode ser compreendido como o novo sistema de governo que substituiria o regime militar, um sistema mais libertário, na opinião do autor, o que pode ser visto nos dois versos seguintes, os quais tratam da liberdade sexual, uma das causas defendidas pela juventude de 68.

Na terceira estrofe o autor fala do seu próprio sofrimento em relação à repressão, a qual é explicitada nos quarto, quinto e sexto versos dessa mesma estrofe, que citam o “amor reprimido”, o “grito contido” e o “samba no escuro”. Pode-se interpretar o “amor reprimido” como uma referência à falta de liberdade sexual, e o “grito contido”, assim como o “samba no escuro”, como uma menção à falta de liberdade de expressão. Nos sétimo, oitavo e nono versos, o compositor nos diz que a tristeza foi uma invenção da ditadura, logo, acabaria quando este regime terminasse. Nessa mesma estrofe, observa-se ainda as palavras “lágrima” e “penar”, as quais remetem ao sofrimento. O compositor afirma que o regime ditatorial pagará em dobro cada lágrima rolada por esse penar, o que demonstra que o intuito da canção é motivar a ocorrência de ações contra a ditadura, e tratar essa postura de forma esperançosa.

Os seis últimos versos da quarta estrofe também revelam essa postura de enfrentar a ditadura. Os versos “E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há de vir/ Antes do que você pensa” demonstram a confiança na luta contra o regime militar e a certeza que este está chegando ao fim.

Na quinta estrofe, o autor utiliza, mais uma vez, palavras que remetem às ações ditatoriais, que são “impunemente” e “abafar”, as quais fazem menção à liberdade ou não de ação e expressão.

Na última estrofe da letra é reforçada a postura agressiva, ou revolucionária, contra a ditadura, o que se observa nos versos “Você vai se dar mal/Et cetera e tal...”

Antes de analisar a música “Fogo no pavio”, é preciso saber um pouco mais sobre o movimento rapper.

O que se percebe através da cultura hip hop e da sua vertente musical, o rap nacional, é a participação jovem diante da realidade política e social, que não atende às expectativas da juventude.

O grito do movimento reivindica, antes de tudo, a emergência de novos modelos e patamares de cidadania. Ao notarem o descaso com que os pobres e suas demandas são tratadas, os “rappers” resolvem, então, dar destaque a assuntos, até então, excluídos dos debate, de sorte que, a violência e todas as suas matizes: orfandade, desemprego, enfim, tudo aquilo que se relaciona com a pobreza, é agora exposto sem maquiagem pelos “rappers” em suas crônicas musicais.

O movimento “rapper”, devido ao sofrimento gerado por sucessivas segregações, provocou ódio, acumulou forças e inspirou uma inédita resistência dos jovens periféricos contra as tiranias do capital e a mesmice do cotidiano. A exemplo de outros grupos juvenis da atualidade, os “rappers” não demonstram interesse em propor grandes transformações sociais, querem simplesmente alertar, expor a dramática situação em que estão imersos e, com isso, cobram mais participação no jogo democrático. Essa estratégia de não veicular nenhum ideal de projeto alternativo em suas manifestações confunde a cultura consensual, desperta suspeita nas lideranças dos movimentos sociais, que acusam os “rappers” de flertarem, freqüentemente, com o mundo da ilegalidade.

A partir do momento que visualizam sua condição de consumidores falhos, os “rappers” propõem uma rediscussão, vale dizer, uma intervenção nos espaços públicos, sugerindo mudanças em sua geografia. Para essa discussão, eles não se apresentam, entretanto, de maneira cordial; potencializam, ao contrário, seus discursos e suas intervenções com uma forte ira social. A cultura hip-hop tem se firmado como um importante meio de aglutinação para os jovens de periferia debaterem as contradições contemporâneas que incidem diretamente em suas vidas. Portanto, mais do que estranhos, seus membros são incômodos, pois teimam em trazer à tona o avesso do país, implodindo a “rocha sobre a qual repousa a segurança da vida diária”.

Para além do discurso radical e inflamado, bem como o do exclusivismo territorial que evocam em suas músicas, os “rappers” buscam, também, o respeito e o reconhecimento da sociedade. Daí a obstinação que se manifesta, entre outras formas, no anseio de fazer um curso superior, de ter carro, ou mesmo de ter uma moradia: “(...) vencer é estudar, fazer uma faculdade, mudar para zona sul, ter carro e uma casa. Eles têm que conseguir o espaço que agora é só do playboy”, diz MV BILL, uma das figuras mais marcantes deste cenário.

Primeiro, foi o inocente apelo pacifista “paz e amor” criado pelas comunidades “hippies” nos anos 60; em seguida, veio o estimulante bordão “punk” “faça você mesmo”; e, mais recentemente, ecoa o grito de justiça social da “República dos Manos”, cobrando participação no jogo comunicativo. “O ‘rap’ é uma arte popular pós-moderna que desafia algumas das convenções estéticas mais incutidas, que pertencem não somente ao modernismo como estilo artístico e como ideologia, mas à doutrina filosófica da modernidade e à diferenciação aguda entre as esferas culturais”. (SHUSTERMAN, 1998: 144).

“60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial. A cada quatro pessoas mortas pela polícia três são negras. Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros. A cada quatro horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo”. (Racionais MC’s, do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, de 1997).

“A máscara pode ser uma cabeleira extravagante ou colorida, uma tatuagem original, a reutilização de roupas fora da moda (...). Em qualquer caso, ela subordina a persona a esta sociedade secreta que é o grupo afinatário escolhido. Aí existe a ‘desindividualização’, a participação, no sentido místico do termo, a um conjunto mais vasto.” (MAFFESOLI, 1988: 128)

Ao se analisar a letra da música Fogo no Pavio, escrita pelo ativista Gog, como prefere ser chamado, percebe-se que diz respeito a uma abordagem mais ampla das regras e dos costumes que os jovens da contemporaneidade, principalmente os que moram nos subúrbios e favelas, possuem, além de expressar o modo como eles se comunicam. Os aspectos abordados na música refletem, geralmente, questões decisivas dos conflitos urbanos: violência, criminalidade, segregação, ocupação dos espaços públicos, entre outros. Quem mais sofre as conseqüências desse conflito são os jovens, e talvez, por isso, percebe-se, nesse segmento, uma elaboração mais intensa de alternativas de convívio social.


Fogo no pavio (GOG)

Amanheceu e as paradas lotadas, o mesmo gado já não tão novo e suas marcas, o calor, a multidão, a fila pra (pra pra) pegar a condução. A escravidão, as chibatadas levadas na senzala se mantém vivas todo dia ano quarto sala: amordaçados por horas em frente à televisão! Efeito bem pior que o da radiação... "País infeliz, bombardeado pela alegria" Tom Zé define assim expressando sabedoria! Vou lhe fazer uma confissão um desabafo: às vezes sinto vontade de jogar tudo pro alto! Mas que nada! Não vou me entregar às armas ou à guerra, quem sabe faz a hora não espera. FHC Joaquim Silvério dos Reis dos dias atuais, traidor da nação, um dólar a mais! Caixa dois até a boca! Dignidade é pouca! Impune, à solta, merece a forca! Vendeu a própria alma sem trauma! Dificilmente esse, o salmo salva! Poesia, verso, rima, prosa! Envenenado pelos livros, Em Nome da Rosa! Infância proibida! País infanticida! 57 mil se vão na primeira semana de vida! Fábrica de anjos. A marmita do pai ao laudo, somado ao saneamento básico confira o saldo: Brasil pecado, realidade trágica, estômagos vazios à espera de cestas básicas... Salário mínimo: atentado, incentivo ao crime maluco! Congresso, Planalto assalto de vida em um lucro! Xadrez! De vez! Para esses canalhas! Ou que ardam nas fornalhas, pagando por suas falhas!

Revolucionários do Brasil! Fogo no pavio! Fogo no pavio! Fogo no pavio!

O pé inchado, mãos calejadas, já pegou pesado na enxada! A prostituta odiada sonha ver a filha formada! Povo nas ruas é dinamite, campo minado, exigindo 20 de novembro feriado! Zumbi o herói dos libertários guerreiro daqui! DMN "H. Aço" é necessário ouvir", ler Ferréz, Sérgio Vaz, e quem sabe se libertar das algemas da carne! Fábrica da Vida motor que trabalha 24 horas por dia! Nó na garganta, lembranças, álbuns, fotos, fotografias: combustíveis altamente inflamáveis pra mim! Caros Amigos, Princípios, Pasquim! Eu vi a célula-mãe se multiplicar, eu vejo o câncer, querendo se instalar. Nas artérias tenho o sangue da indignação, G.O.G. (G.O.G! G.O.G! Guerreiro da Revolução!) Querem fazer do Brasil e da América Latina uma latrina! Segue assim a diária chacina! Espancamentos, processos lentos sem punição, um seriado sem fim, uma ficção. Capitalismo puro é isso! O feto dejeto no lixo! Negociação com o patrão por um salário fixo... Fio condutor, o torturador da gravata, que no dia da eleição te transporta de graça! Embalsamados pelo manto da desordem! Se dizem líderes de uma geração! Até no travesseiro recebem ordens chega! Basta! Não! (Não! Não!) Surge o embrião! O trem da vida prepara a partida está bem vazio, a burguesia que valoriza a carne perderá o espírito! Xadrez! Devez! Para esses canalhas! Ou que ardam nas fornalhas, pagando por suas falhas!

Revolucionários do Brasil! Fogo no pavio! Fogo no pavio! Fogo no pavio!

Família G.O.G. pode crê... Paz então irmã, então irmão! <> Como maltratam o Brasil: ACM, FHC, o Sistema é a bomba e o pavio: só que o Preto aqui é o estopim em vinil!

Revolucionários do Brasil! Fogo no pavio! Fogo no pavio! Fogo no pavio!
(Para a vítima Brasil....... o Brasil)

A música do ativista GOG é uma reação à sociedade opressora, as diferentes realidades sociais vivenciadas nas grandes metrópoles urbanas. O meio de expressar, o grito dessa parcela jovem da população com pouca instrução manifesta a emergência de novos modelos e patamares de cidadania. A música começa uma narração descritiva sobre o início de um dia de trabalho, pessoas acordando cedo, indo pegar suas conduções para mais um dia árduo de trabalho como gados ou escravos - forçados, impelidos. O narrador chega a esboçar algum tipo de vontade de abandonar a vida cotidiana, de acabar com a rotina desumana de boa parte da população.

Para logo em seguida fazer uma referência a famosa música de Geraldo Vandré - Para não dizer que não falei das flores e seu tão repetido refrão Quem sabe faz a hora não espera acontecer... Na música Fogo no pavio, a referência perpassa questões sociais com a imposição da violência como meio de sobrevivência refutado pelo narrador. Não vou me entregar às armas ou à guerra, quem sabe faz a hora não espera. A politização da letra e a mensagem passada de forma agressiva são características fundamentais no rap.

Essa nova forma de pensar a cultura e a expressão de uma parcela antes esquecida fazem do movimento hip hop uma das vertentes mais atuantes na busca da igualdade social.

Na segunda parte, há a seguinte passagem A prostituta odiada sonha ver a filha formada!/Caros Amigos, Princípios, Pasquim!. Esses trechos demonstram como a parcela mais desprovida da população ainda acredita na educação como forma de ascender socialmente. Embora os contextos da música do Chico Buarque e do GOG sejam completamente diferentes, o que os une é a expressão do desejo de mudança expressado especialmente por jovens. A repressão da ditadura ou do capitalismo mais exacerbado produzem nos jovens uma desindividualização, uma vontade coletiva de mudança.

Observando essas duas canções, pode-se perceber que, mesmo seguindo estilos diferentes, as duas são formas de protesto. A primeira é obviamente menos explicita, faz uso de ambigüidades, já que vivia-se em um contexto ditatorial, a segunda, entretanto, é direta, e menciona, inclusive, nomes de personalidades com as quais o movimento possui ou não afinidades.

Após ler e comparar as músicas, conclui-se que o ideal revolucionário tão defendido em 68 não se perdeu, apenas se expressa hoje de muitas maneiras diferentes. Talvez a diferença mais marcante entre esses dois movimentos seja a classe que eles atingiram. Em 68 os revolucionários eram os estudantes, professores e intelectuais da sociedade brasileira, já os revolucionários do movimento rapper são vistos de forma preconceituosa e são considerados marginalizados muitas vezes.

A música de hip hop, aqui analisada, mostrou que temas como a luta por melhores condições de vida, o que inclui o direito ao saneamento básico, à alimentação saudável, a salários mínimos dignos, a um emprego e à oportunidade de estudo; a luta contra a corrupção, contra o infanticismo, contra o racismo, contra os espancamentos, contra a compra de votos; e o clamor por justiça são preocupações do movimento.

Em 68, lutava-se pela igualdade entre homens e mulheres, pelos direitos dos gays, pela igualdade entre negros e brancos, pela valorização das crianças, pelo direito ao divórcio, pelos direitos do trabalhador, pelas reformas na educação, pela liberdade sexual e pela democracia. Já em 2008, as lutas são, dentre outras coisas, contra a violência, a criminalidade, a segregação e a ocupação dos espaços públicos. Embora os dois movimentos tenham atingido classes diferentes e priorizado lutar por causas diferentes, não se pode negar que os jovens dessas duas épocas fizeram com que suas vozes fossem ouvidas e com que suas causas fossem respeitadas. Que a juventude continue sempre revolucionária e que a sociedade aprenda com ela!


Naira de Almeida Velozo, Natasha Gonçalves Otsuka & Ricardo Thomé da Costa



Alegria, Alegria: Vida e morte do Tropicalismo

A Tropicália foi o avesso da Bossa Nova

Caetano Veloso

O movimento tropicalista teve início em meados de 1967, mas só passou a carregar este nome a partir de 5 de fevereiro de 1968, quando o jornalista Nelson Motta publicou o artigo “ A Cruzada Tropicalista” no jornal “Última Hora”. O texto falava de um grupo de músicos, cineastas e intelectuais brasileiros que fundava um movimento cultural de alcance internacional.

Cansados do elitismo e do preconceito nacionalista que dominavam o ambiente da música popular brasileira pós- Bossa Nova, um seleto grupo formado por músicos e intelectuais, liderados pelo baiano Caetano Veloso, resolveu após muita discussão arejar o cenário musical do país. A saída para esse marasmo musical seria aproximar a música brasileira dos jovens, que cada vez mais se mostravam seduzidos por ritmos americanos: o pop, o rock dos Beatles e o iê- iê-iê da Jovem Guarda.

O Tropicalismo acabou incorporando elementos da cultura pop estrangeira à cultura brasileira, uma filosofia estética e radical própria da Tropicália, inspirada no movimento antropofágico, idealizado por Oswald de Andrade e outros modernistas na década de 20. Gilberto Gil, Tom Zé, os letristas Torquato Neto e Capinam, o maestro e arranjador Rogério Duprat, o trio Mutantes e as cantoras Gal Costa e Nara Leão também participaram ativamente deste movimento, que, mais do que como um estilo musical, pretendia se impor como uma atitude crítica perante a cena cultural do país.

Canções como Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, ficaram conhecidas como marcos oficiais do movimento que, ao longo de 1968, revolucionou o status quo da música popular brasileira. Mas, nem tudo foi flores. As composições, que foram apresentadas ao público no III Festival da Musica Popular Brasileira da TV Record, em outubro de 1967, não foram bem recebidas pela chamada linha dura do movimento estudantil. As guitarras elétricas e a atitude roqueira foi celebradas com vaias e insultos pelos que reconheciam o estilo como símbolo do imperialismo norte-americano. Estavam a partir daí lançadas as bases para o Tropicalismo.

Mas, polêmicas à parte, tanto o júri quanto o grande público do festival aprovou a nova tendência. Domingo no Parque ficou em segundo lugar na competição. Alegria, Alegria terminou em quarto. Mas, o sucesso foi tanto que a música estourou nas rádios de todo país e rendeu a Caetano Veloso mais de 100 mil cópias vendidas, número bastante expressivo para época.

Depois que a Tropicália caiu no gosto do público e na boca da imprensa, já em 1968, Caetano, Gil e os Mutantes viraram verdadeiras celebridades. Com freqüência, eram chamados a participar de programas de televisão, principalmente, àquele apresentado por Abelardo Chacrinha, que virou ícone do movimento.

Em maio do mesmo ano, os tropicalistas gravaram um álbum coletivo chamado Tropicália ou Panis et Circensis. Caetano coordenou o projeto que ficou com cara de de manifesto. Canções inéditas de sua autoria, ao lado de outras de Gil, Torquato Neto, Capinam e Tom Zé faziam parte do trabalho. Os Mutantes, Gal Costa e Nara Leão, além do maestro Rogério Duprat, autor dos arranjos, completavam o time vencedor.



Capa do álbum Tropicália ou Panis et Circensis


O disco foi lançado em agosto e compunha o retrato alegórico de um país ao mesmo tempo moderno e retrógrado. Ritmos como o bolero e o baião, ao lado de canções melodramáticas indicavam o intuito tropicalista de enfatizar a cafonice da cultura brasileira. Afinados com a contracultura da geração hippie, os tropicalistas também questionaram os padrões tradicionais da chamada boa aparência, trocando os cabelos curtos pelos compridos e as roupas sóbrias pelas extravagantes.

Antes de fins sociais e políticos, a Tropicália foi um movimento nitidamente estético e comportamental. Com tantas provocações, as reações à Tropicália começaram a se tornar mais agressivas e os confrontos começaram a aparecer. Dentre os mais famosos está o que ocorreu durante o III Festival Internacional da Canção, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo.

Caetano Veloso foi agredido com ovos e tomates pela platéia ao defender com os Mutantes a canção É Proibido Proibir, que compôs a partir de um slogan do movimento estudantil francês. O compositor irado reagiu com um discurso que ficou para a história. "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?"

Com o crescente endurecimento do regime militar no país, as interferências do Departamento de Censura Federal já eram práticas de rotina. Canções tinham versos inteiros cortados, ou eram mesmo vetadas integralmente. O decretação do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968, oficializou de vez a repressão política a ativistas e intelectuais.

Em 27 de dezembro de 1968 Caetano e Gil foram detidos e com isso a Tropicália se enfraqueceu, embora a morte simbólica da corrente já tivesse sido decretada em reuniões do grupo. Mas, o movimento que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais da época seguiu influenciando grande parte da música popular produzida no país pelas gerações seguintes.


Postado por: Christiane Dias

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Passeata dos Cem Mil

26 de Junho, a passeata dos 100 mil


No dia 26 de junho de 1968, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro e realizaram o mais importante protesto contra a ditadura militar até então. A manifestação, iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, pretendia cobrar uma postura do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento crescente com o governo; dela participaram também intelectuais, artistas, padres e grande número de mães.
Desde 67, o movimento estudantil tornou-se a principal forma de oposição ao regime militar. Nos primeiros meses de 68, várias manifestações tinham sido reprimidas com violência. O movimento estudantil manifestava-se não apenas contra a ditadura, mas também à política educacional do governo, que revelava uma tendência à privatização. A política de privatização tinha dois sentidos: era o estabelecimento do ensino pago (principalmente no nível superior) e outro, o direcionamento da formação educacional dos jovens para o atendimento das necessidades econômicas das empresas capitalistas (mão de obra especializada). Essas expectativas correspondiam a forte influência norte-americana exercida através de técnicos da USAID que atuavam junto ao MEC por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de acordos que deveriam orientar a política educacional brasileira. As manifestações estudantis foram os mais expressivos meios de denúncia e reação contra a subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano.Prisões e arbitrariedade eram as marcas da ação do governo em relação aos protestos dos estudantes, e essa repressão atingiu seu apogeu no final de março com a invasão do restaurante universitário "calabouço", onde foi morto Edson Luís, de 17 anos.
O fato, que comoveu e revoltou todo o país, serviu para acirrar os ânimos e fortalecer a luta pelas liberdades. Durante o velório do estudante, o confronto com policiais ocorreu em várias partes do Rio de Janeiro, sendo que o cortejo fúnebre foi acompanhado por 50 mil pessoas. Nos dias seguintes, manifestações sucediam-se no centro da cidade, com repressão crescente até culminar na missa da Candelária (2 de abril), em que soldados a cavalo investiam contra estudantes, padres, repórteres e populares.
Nos outros estados o movimento estudantil também ampliava seu nível de organização e mobilização; em Goiás, a polícia baleou 4 estudantes, matando um deles, Ivo Vieira.Durante todo o ano de 68 as manifestações estudantis ocorreram, assim como intensificou-se a repressão, até a decretação do AI-5, em 13 de dezembro.



Depoimento de Marcelo Alencar narrando os incidentes ocorridos após o assassinato do estudante Edson Luiz, março de 1969.


Passeata dos Cem Mil na Cinelândia, 26 de junho de 1968.



Cartazes de manifestantes durante a passeata




Palácio Tiradentes - ponto de encontro dos manifestantes da passeata dos Cem Mil, 26 de junho de 1968.

postado por: Érica Domingos P. Marques

A luta não terminou.... O que estamos querendo dizer?????


No final de 68, a repressão ao Congresso da UNE, a prisão dos dirigentes estudantis e a promulgação do AI5, que generalizava a censura e a repressão, marcam a derrota deste primeiro ensaio de luta contra a ditadura. Suas lições, quarenta anos depois, continuam validas para armar o movimento operário e estudantil.

A primeira delas é o potencial do movimento estudantil quando levanta demandas do conjunto da população – abaixo a ditadura! – e se liga a um movimento operário combativo e radicalizado. Esse foi o grande aporte dos estudantes ao movimento operário em 68. A partir das mobilizações estudantis contra a ditadura, influenciadas pelas organizações guerrilheiras e de esquerda, que os operários e a vanguarda combativa que organizava as comissões de fábricas, as lutas e as oposições sindicais, passavam a compreender e assumir a centralidade da luta pela derrubada da ditadura.

O processo de 68 foi derrotado, pois de conjunto esse momento de levante operário e estudantil ficou prisioneiro das duas estratégias hegemônicas. De um lado, a esquerda reformista com seu pacifismo, conciliacionismo e frentepopulismo (PCB). De outro, os novos dirigentes operários e estudantis que combatiam o oportunismo impotente do PCB, não desenvolveram uma estratégia para que a vanguarda operária de Contagem e Osasco se colocasse a cabeça das massas operárias e estudantis de todo o país. Acabaram derrotados ao assumir a estratégia foquista da guerrilha, ao tentar substituir a ação das massas pela ação exemplar de uma minoria. Essas duas estratégias contrapostas não ofereciam à classe operária e ao movimento estudantil que se levantavam contra a ditadura militar uma estratégia revolucionária, de hegemonia da classe operária como dirigente da derrubada insurrecional da ditadura e do enfrentamento à ordem capitalista. Resumindo: poder aos poderosos.




Foi publicado no Globo Online do dia 13/05/08 no caderno de Educação a seginte matéria:


Estudantes cotistas enfrentam dificuldade para se manter na universidade

Publicada em 13/05/2008 às 10h29m

lítica de cotas, a estudante negra Mariana Ferreira de Almeida, de 23 anos, entrou no curso de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Há cinco anos na faculdade, apesar do apoio dos pais, conta que enfrenta dificuldades para continuar estudando.

A aluna mora no município de Niterói e precisa pegar dois ônibus para chegar à faculdade. "Às vezes pego um só e caminho um outro pedaço". A despesa com passagens encarece também o estudo, além dos gastos com livros e os custos com refeição.

"A Uerj não tem 'bandejão' e nenhum outro tipo de auxílio alimentação. Então, quando você tem uma disciplina à tarde e não tem como voltar para casa é um gasto a mais. Ainda mais no meu caso, que moro em outro município", diz.

" A cada semestre os aluno vão desistindo. Os que não saíram, não conseguem ir à universidade todo dia por conta dos custos (Mariana Almeida, estudante) "

A estudante conta que o "aperto" já foi maior antes do estágio e que assim como ela, outros colegas têm dificuldade de se manter no curso. Muitos até trancam a matrícula.

"A cada semestre os aluno vão desistindo. Foram muitos [que abandonaram]. Os que não saíram, não conseguem acompanhar de forma contínua as aulas. Não conseguem ir à universidade todo dia por conta dos custos", explica.

O problema pelo qual Mariana passa é uma realidade em boa parte das universidades, que adotaram a política de cotas no país, cerca de 40 instituições, segundo o Ministério da Educação.

" Havia uma promessa de que os governos dariam suporte às universidades com bolsas, mas isso não aconteceu (Renato Ferreira, Uerj) "

Para o coordenador do Programa Política da Cor da Uerj, Renato Ferreira, apesar do esforço dos alunos, sem a assistência necessária, o sistema de cotas "já nasceu capenga".

"Havia uma grande promessa de que os governos iriam dar suporte às universidades com bolsas, mas isso não aconteceu", disse Ferreira. "Perdemos a oportunidade de implementar programas de ações afirmativas responsáveis, quando não há assistência estudantil", completou.

Outro problema apontado pelos estudantes negros cotistas da Uerj é a necessidade de aulas complementares em cursos como o de línguas, por exemplo. Após o primeiro período, os estudantes não recebem mais a bolsa de R$ 190 e a saída é procurar projetos de pesquisa para completar os gastos.

"Alguns critérios nos tiram dessa seleção. A maioria exige inglês avançado e isso é uma condição que elimina mesmo. Em algumas situações, essa exigência não é muito importante, mas é uma forma de selecionar", critica a também estudante de direito Monique Camilo.

Para o professor Renato Ferreira, além de investir em assistência estudantil é preciso que as universidades acompanhem o desenvolvimento acadêmico dos cotistas e avaliem a necessidade de medidas específicas para eles.


Em 1968 a luta era outra, claro, os tempos eram outros no entanto as dificuldades que se tinham de enfrentar para conseguir uma vaga em universidade pública parece a mesma. O movimento estudantil queria ampliar o ensino, dá-lo por direito aos cidadãos. Assim como o projeto das cotas Pergunta: o que pretende o sistema de cotas nas universidades públicas sendo tão “mal-acabado”, possuindo tantas lacunas? Com esse artigo gostaríamos de deixar o pensamento e entender o que se passa nesse Brasil onde a história muitas vezes parece se “repetir”, claro com pequenas diferenças, mas ainda grandes dificuldades.


Estudando o ano de 1968 absorvemos uma consciência e uma ideologia de pensar no que temos hoje alguma coisa a mais que tinha essa geração passada, apesar de continuarmos os conflitos....

Postado por:
Daiane Monteiro & Daiane Machado
















































































1968 – O ano que sacudiu o mundo

Para a geração estudantil atual é muito difícil pensar no que no ano de 68 representou para a história mundial. Em um momento de completa inércia desse segmento, não podemos deixar de nos lembrar dos heróis que sacudiram o mundo e nos possibilitaram aprender a questionar sempre, seja instâncias militares, seja o governo, seja quem for.


Naquele momento, um mundo morria e outro estava nascendo.


Como precursores, os estudantes universitários americanos, que protestavam contra a Guerra do Vietnã. A revolta começou logo após a Ofensiva do Tet onde, com a globalização se instaurando, o mundo pode ver pela imprensa ocidental, o massacre dos Estados Unidos contra os incansáveis combatentes vietcongues.


A oposição à luta no Vietnã mobilizou os campi das principais universidades do país, levando à invasão de prédios e ao cerco a instalações universitárias que faziam pesquisa militar.


No entanto, com o fim da convocação compulsória para o serviço militar, o governo americano atendeu às demandas do movimento antiguerra e enfraqueceu a futura oposição interna a conflitos, já que os universitários americanos de classe média não eram mais forçados a participar deles.


Ainda que o foco desse texto seja o movimento estudantil pelo mundo, não pode-se deixar de falar em um fato muito importante para o ano de 1968: a morte do pastor Martin Luther King.
Líder do movimento negro americano, ele não chegou a se posicionar diretamente contra a Guerra do Vietnã, mas combinou a luta contra o racismo com o ativismo contra a guerra e as desigualdades socais. Foi morto em 4 de abril de 1968, assassinado por um homem, preso dois meses depois, que nunca esclareceu o motivo do crime.


Apesar dos confrontos raciais que se seguiram em muitas das principais cidades americanas, e da repressão muitas vezes brutal da polícia, a ação de Martin Luther King e seus companheiros acabou revertendo de vez a segregação racial institucionalizada nos Estados Unidos.


Voltando aos movimentos estudantis, talvez o mais importante e mais destacado na história de 68 seja o das universidades francesas para tirar o presidente do poder. Quanto mais os estudantes protestavam, mais a polícia reagia de força brutal. E assim, muito pelo contrário do que pretendia o governo, o movimento se tornava cada vez mais irredutível e teve como um dos principais líderes Daniel Cohn-Bendit.


No mês de maio as coisas ficaram mais pesadas. Em poucos dias, as exigências dos estudantes passaram a encampar a renúncia de Charles de Gaulle e eleições gerais. Dia após dia, Paris era palco de combates intermitentes entre a polícia e manifestantes, armados de pedras e coquetéis molotov.


O estopim foi a greve geral em apoio aos estudantes que levou 10 milhões de pessoas às ruas (nunca uma revolta juntou tanta gente na história). O presidente francês se viu pressionado e convocou eleições legislativas gerais às pressas.


Nas eleições organizadas por Charles de Gaulle, os partidários do presidente, visto no fim das contas como alguém que conseguiria restabelecer a paz, acabaram vencendo – e os protestos estudantis, assim, se esgotaram.


Por fim e não menos importante, o movimento estudantil (que foi seguido por diversos outros segmentos da sociedade civil, Igreja e sindicatos) brasileiro para derrubar a ditadura militar.
Alguns grupos de esquerda no país já tinham decidido que oposição democrática não era mais viável e partiram para a guerrilha urbana.


O ato mais importante do movimento estudantil foi reunir uma passeata com cem mil pessoas, no Rio de Janeiro, que contava com a presença de políticos, artistas, trabalhadores e dos próprios estudantes, para protestar contra a ditadura.


Mas apesar da pressão de praticamente toda a sociedade, a ditadura reagiu de forma mais repressiva: instaurou o AI-5, que dava poderes praticamente ilimitados ao presidente da República para dissolver o Congresso, retirar direitos políticos e civis de dissidentes e até confiscar seus bens.


Apesar de todas as formas de oposição terem sido derrotadas, a mística que surgiu em torno da resistência brasileira acabaria virando modelo de luta pela redemocratização do país. Deveria, na verdade, servir de modelo para a nova geração, para que aprendessem a ser mais responsáveis com aquilo que custou a vida de muitos e a lutar sempre e nunca se contentar, porque não há causa perdida; só se perde uma causa quando nem se começa a lutar por ela.
Postado por: Luana Dangelo

A Luta não pode acabar

O ano de 1968 foi marcado pelas revoltas estudantis que mudaram o pensamento de uma época, buscaram uma utopia e seguiram um ideal. A postura ativa desses reivindicadores, no entanto, não se encontra tão fortemente expressa nas comunidades estudantis da geração 00. Mas será que esse espírito acabou? Se esvaeceu simplesmente? Ainda há o que destoe dessa postura passiva, acomodada, quase niilista que parece pairar na sociedade contemporânea?

Com uma mudança de tempo, é claramente percebida uma mudança de pensamento. Não parece possível imaginar atualmente organizações e movimentos revolucionários que obedeçam os moldes de épocas passadas. Com a mutação radical dos meios de comunicação, é possível pensar que a forma de se relacionar com e de transmitir algumas mensagens teve de ser repaginada. Contemplar grêmios estudantis com a presença de um plantel de estudantes cheios de reivindicações, assembléias lotadas de opositores e comícios políticos abarrotados de revolucionários não é mais uma realidade.

No entanto, com a disponibilização de locações virtuais livres de qualquer taxa de aluguel e que oferecem certa segurança a quem pretende se expressar (não é mais necessário apanhar da polícia), a livre manifestação encontra seu território. Como exemplo, seguem alguns links de fóruns de discussão de uma comunidade virtual sobre a Universidade do Estado do Rio de Janeiro*. De discussões éticas ao estado de greve da UERJ.

Se em 1968 era extremamente necessário ter alguma cautela para falar de determinados assuntos e a atmosfera da ditadura tentava impedir o debate sobre alguns temas, o que se vive hoje é uma exacerbação da liberdade. É possível discutir sobre tudo e ter opinião formada - e em formação - sobre qualquer fato. Essa facilidade permite maior contato com ideologias e propostas políticas, possibilidade de diálogo com diversas visões de mundo.
Os debates não acabaram. É crescente o número de estudantes participando dos fóruns virtuais de discussão política, a conscientização é ampla e pela utilização de emails, mensagens instantâneas, publicações de blogs e recados em páginas pessoais é possível saber mais sobre tudo o que está acontecendo.
Tem-se a faca e o queijo na mão. O que falta agora para ir a luta?
*É necessário ter conta no Google para acessar os links
Perguntado por: Gabriella Campos Mendes

Arte - O Movimento Tropicalista e o ano de 1968

“1968” foi o ano louco e enigmático do nosso século. Ninguém o previu e muitos dos que nele estiveram presentes e participaram entenderam afinal o que ocorreu. Foi como um furacão humano, uma generalizada e estridente insatisfação juvenil, que ocorreu no mundo em todas as direções.

Tornou-se mítico porque foi o ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível. Seria o marco para os movimentos ecologistas, feministas, das organizações não-governamentais (ONGs) e dos defensores das minorias e dos direitos humanos.

Além da indignação geral provocada pela Guerra Vietnamita e o fascínio pelas multidões juvenis da Revolução Cultural chinesa, também pesou na explosão de 1968 a morte de Che Guevara na Bolívia, ocorrida em outubro de 1967. Seu martírio pela causa revolucionária serviu para que muitos se inspirassem no seu sacrifício. Jovens de todas as partes, especialmente na Europa e na América Latina, tentando atender ao seu apelo para que se formassem em outros lugares do mundo, “dois, três Vietnãs” lançaram-se na vida guerrilheira.

No Brasil, estudantes organizavam passeatas contra a ditadura militar. Na arte, o tropicalismo tomou forma definitiva, como um movimento chamado “Tropicália, movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira. Contou com a participação dos cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. Ao unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as idéias tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional.

As músicas em forma de diálogos com obras literárias como as de Oswald de Andrade ou dos poetas concretistas elevaram algumas composições tropicalistas ao status de poesia. Suas canções compunham um quadro crítico e complexo do País – uma conjunção
do Brasil arcaico e suas tradições, do Brasil moderno
e sua cultura de massa e até de um Brasil futurista. Elas sofisticaram
o repertório de nossa música popular, instaurando
em discos comerciais procedimentos e questões até então associados apenas ao campo das vanguardas conceituais.

Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. Em um ano que marcou a eclosão e fechamento de tudo, o movimento não compreendido teve seu final com a prisão de Caetano e Gil, logo após a promulgação do AI-5.

1968 foi mais que um ano, foi um intenso momento de uma revolução que não se socorreu de tiros e bombas, mas da pichação, das pedradas, das reuniões de massa, do autofalante e de muita irreverência. Havia sempre a busca pela luta dos ideias, a esperança de que, diante de todo o esforço, se conseguiria mudar e revolucionar. O Tropicalismo foi somente uma das várias inteligentes idéias para se falar, de maneira irreverente, sobre o nosso país, nossos costumes, nossa sociedade, nossa música, nossa arte, sobre nós. O interessante é perceber que, em um ano em que o mundo passava por momentos tão conturbados, havia ainda o sentimento de conquista, de vontade de mudar, de transformar para o bem comum. E hoje, em outro tempo, 40 anos depois, não se vê luta por nada, com tudo se acostuma. Saudade, de repente, de um tempo que não vivi.

Postado por Helena Quintanilha Silva Santos

*fotos tiradas do site http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/movimento.php



"2008, O Ano Que Ninguém Quer Estar"

O ano de 2008 se apresenta como sendo o ano de algumas célebres comemorações. Há 40 anos vivíamos o auge da ditadura e seus confrontos com os movimentos estudantis; a Bossa Nova está completando 50 anos de seu nascimento; a obra Macunaíma foi publicada há 80 anos; são 100 anos da morte daquele que é considerado um dos maiores escritores brasileiros: Machado de Assis; 200 anos da vinda da família real para o Brasil; 400 anos da morte de Antônio Vieira e perdoe-nos se esquecemos alguma outra.

Em 1928, Mário de Andrade escreve Macunaíma, que traz uma reflexão sobre a identidade brasileira. Essa obra – que foi chamada por seu autor de rapsódia – virou filme, peça entre outros e por isso pode ser considerada uma das matrizes geradoras da cultura nacional. Também nesse ano, é publicado A Bagaceira, livro de José Américo de Almeida.

A década de 50 é chamada de Anos Dourados e encerrava em si toda uma esperança de que seria possível o país crescer. Juscelino Kubitschek governou de 1956 até 1961 com base em um modelo desenvolvimentista. Assim, teve-se um clima ideal para as vanguardas que influenciaram a poesia de autores de décadas anteriores como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Em 1958, a seleção brasileira de futebol se torna, pela primeira vez, campeã mundial, além de ser o ano da Bossa Nova. Por tudo isso, é em 1958 que Joaquim Ferreira dos Santos lança O Ano Que Não Deveria Terminar, em que o autor escreve: “Nunca o brasileiro foi tão feliz como em 1958”.

Devemos destacar também alguns escritores que, em 1958, então em plena atividade: na ficção com Guimarães Rosa, Clarice Lispector; na poesia temos Drummond e João Cabral de Melo Neto etc. Dentre esses, percebemos características interessantes, por exemplo: enquanto Guimarães renova uma tradição na década de 1950 – visto que José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto são escritores que acreditavam que para se ter ficção era necessário ter uma boa história para contar, uma narrativa – Clarice mostra uma outra corrente de ficção, levando alguns teóricos a não considerar sua ficção como brasileira. O mais importante para a autora de A Paixão segundo G.H. não é o enredo, mas a reflexão sobre os fatos, ao passo que em Guimarães Rosa existe um equilíbrio entre os dois.

O Jornal do Brasil, em 1956, reformula-se e lança um suplemento de poesia que se torna a base do Concretismo e do Neo-Concretismo. Isso se mantém até 1964. João Cabral de Melo Neto, poeta da década de 1940, influenciado por um movimento mineiro de poetas, chamado Violões de Rua, que eram contra o formalismo do concretismo e buscavam uma poesia engajada, embrenha-se na poesia social com Pedra do Sono, Os Três Mal-amados. Mas é com O Engenheiro que ele descobre sua poesia, seu próprio estilo.

Também como um escritor engajado ideológica e politicamente, temos Jorge Amado, que era militante do Partido Comunista. Sendo ele da Bahia, terra do cacau, sua temática não era urbana. Em 1958, Jorge Amado escreve Gabriela, Cravo e Canela. É possível perceber na obra elementos modernos e elementos da virada do século. O autor apresenta nesse livro o fim da impunidade. Antes os maridos matavam suas esposas por adultério e não eram punidos. Há alguma coisa de Machado nessa obra.

Mesclando tradição com modernidade, Jorge Amado usa uma linguagem mais popular, coloca subalternos como personagens relevantes, não que Machado e Alencar não usassem empregados, mas a visão era outra. Tanto Jorge Amado quanto Guimarães Rosa, em 1958, estão preocupados com o arcaísmo; eles retomam um passado, um Brasil que está acabando, um país agrário que dá lugar a um urbano. Esses autores mostram um Brasil da República Velha, um Brasil de coronéis, como se pode ver em Gabriela que se passa na Ilhéus de 1925.

O ano de 1968 faz parte dos chamados Anos de Chumbo e seu lema é: “É proibido proibir”. Nesse ano, na França, tem-se o movimento estudantil na Universidade de Sourbone. Nos Estados Unidos, o movimento será na Universidade da Califórnia com estudantes contra a Guerra do Vietnã. É nesse período que surge o movimento Hippie e a expressão “Paz e Amor” (Make love not war). Podemos dizer que 1968 foi o ano mais próximo da Utopia porque não havia tanta separação entre os mais ricos e mais humildes, visto que estudavam juntos, ou seja, a elite se interessa pelos problemas sociais e políticos. Hoje os filhos da elite estudam fora do Brasil e o número de ricos residentes fora do país é muito maior.

Carlos Drummond de Andrade que em 1930 lança Alguma Poesia, em 1968 escreve sua autobiografia poética: Boitempo. A falta que ama. Nessa obra, tem-se jogos de palavras, trocadilhos como no poema (In) memória. Drummond possui uma fixação na infância, por isso a importância da biografia e da memória. Existe um predomínio do tempo passado sobre o presente. O autor se refugia não mais nas utopias, mas no passado. Ele não se interessa, em 1968, pelo que está acontecendo. Ele fala do avô, de Itabira, do Brasil imperial etc. Boitempo é um poema de um homem de 66 anos que adota, para criar seu poema, uma perspectiva de criança.

Em 1968 tem-se um literatura canônica e outra de massa. Jorge Amado é um escritores dos mais vendidos, obtendo uma grande popularidade. Existe, nesse período, uma retomada da narrativa realista. Graciliano Ramos é herdeiro de Machado.

Diferentemente de autores como Machado, Jorge Amado que valorizam o nacional, a literatura, hoje, fascina ao retratar o outro porque este fascina tanto quanto amedronta. Paulo Coelho, por exemplo, ambienta seus livros em outros países.

Por tudo isso, pode-se dizer que estamos vivendo uma época de memorialismo, pois 2008 é um ano de olhar para o passado. Essa falta de olhar para o futuro é o fim das utopias também chamada de distopia. Esse “olhar para trás” significa um não querer estar no presente. O escritor Zuenir Ventura, autor do livro 1968, O Ano Que Não Terminou, defende a teoria de que 2008 é um ano que ninguém quer estar e, justamente, por conta disso, faz-se tantas comemorações.

Postado por: Achiles Martins Pinto Pereira
Caroline Benarroz de Magalhães
Roberto Pereira da Silva

68, um ano cheio de histórias


Em recente entrevista à Folha do Méier (Junho de 2008) Zuenir Ventura fala um pouco de seu mais novo livro 1968- O que fizemos de nós. O livro fala de quarenta anos depois das barricadas de Paris, das manifestações contra a guerra do Vietnã, da passeata dos Cem Mil e do AI-5. Zuenir volta ao primeiro livro, 1968 - O Ano que Não Terminou, para investigar o que restou da herança do mais conhecido ano do século XX, 1968.

De tal entrevista a perguntas mais pertinente e que mais resume os efeitos dessa época é justamente o que ficou de positivo e de negativo. Zuenir afirma que de positivo ficaram quatro movimenos. O primeiro foi o movimento feminino. A condição da mulher cresceu muito. Teve a queima de sutiãs. Em 1968, no Rio, a mulher não entrava sozinha em bares e restaurantes e hoje as mulheres entraram no mercado de trabalho. O segundo foi o movimento gay, homossexual que estava no armário em 68. Em terceiro, o movimento negro, que praticamente não existia e por quarto, o movimento ecológico. De negativo ficaram as drogas. Que eu chamo de herança maldita. Havia uma utopia ingênua de que elas eram uma "experimentação" e hoje só servem para matar e dar lucro para os traficantes. Mas acredito que a herança maior foi o plano de herança pessoal, porque a garotada pensava em fazer uma revolução política e fez uma revolução comportamental.

Apesar de muitas pessoas ainda quererem esquecer 68 por seu lado negativo, o progresso em âmbitos importantes para a sociedade foram mais proveitosos. A começar pela própria revolução feminina, responsável por muitas conquistas trabalhistas para as mulheres, antes vistas somente como donas de casa. Na verdade as pessoas estão mais interessadas em ouvir sobre o ano de 68 do que esquecer.

Ao resumir o ano de 68 com uma frase para encerrar a entrevista Zuenir Ventura diz:"foi um ano de muitas paixões, muitos sonhos, muitos desejos e muita vontade." E é justamente essa mensagem que deve perdurar naqueles que estudam esse período da história do Brasil e do mundo. Período de perdas e ganhos, porém essencial para o que foi construído nesses 40 anos.
Postado por: Suzane Martins

O surgimento da Literatura documental e o romance-reportagem dos anos 70 como reflexo do ano de 1968

Para entender a ruptura no gênero literário a partir dos anos 70, faz-se necessário entender os motivos que tornam esta década revolucionária e marcante no Brasil. Por isso, analisaremos, não só o quadro político brasileiro, mas também o quadro político mundial, que influenciou nossos artistas, intelectuais, pensadores e escritores, estes últimos, aos quais direcionaremos este estudo.
Sabemos que nenhum incidente surge de um dia para o outro. Desde 1965, a pretexto do incidente do Golfo de Tonquim , o presidente norte-americano Lyndon Johnson ordenara o bombardeio do Vietnã do Norte, e no Vietnã do Sul, um reforço de mais de 300 mil soldados para evitar uma possível vitória dos vietcongs. A partir de então a crescente oposição à guerra dentro dos Estados Unidos quase tornou-se numa aberta insurreição da juventude. As raízes do movimento chamado hippie são detectadas desde os anos 40: caracterizado pela juventude rica e escolarizada que recusava a injustiças e desigualdades da sociedade americana, nomeadamente a segregação racial. Desconfiava do poder económico-militar e defendia os valores da natureza. Em 1969, aconteceu a "Woodstock Music and Art Fair", que foi um símbolo da contra-cultura e das "mentes abertas", onde as drogas eram "legais" e o amor era "livre".



Ainda em 1965, na periferia da capital francesa, instalou-se a Universidade Paris- Nanterre para acolher estudantes que não ingressavam no circuito superior tradicional. Em pouco tempo tornou-se um centro de contestação.
Em nosso continente, pesou a morte de Che Guevara na Bolívia em 1967. Seu martírio pela causa revolucionária serviu para que muitos se inspirassem no seu sacrifício.
O ano de1968 foi o ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível, desencadeando movimentos, os quais: ecologistas, feministas, das organizações não-governamentais , dos defensores das minorias e dos direitos humanos.
"1968" foi também uma reação extremada, juvenil, às pressões de mais de vinte anos de Guerra Fria.
No Brasil, A ditadura militar implantou-se em 1964 em consequência do golpe militar contra João Goulart, mas foi com o Acto Institucional nº5 de 1968 que o regime conheceu a sua expressão mais dura. No Rio de Janeiro, em 28 de março de 1968, um secundarista carioca chamado Edson Luís foi morto numa operação policial de repressão a um protesto em frente ao restaurante universitário "Calabouço", comovendo toda a nação. A partir daquele momento o Brasil entraria nos dez meses mais tensos e convulsionados da sua história do após-guerra. Em 26 de junho daquele ano, 100 mil pessoas - a Passeata dos Cem Mil - marcharam pelas ruas do Rio de Janeiro exigindo abrandamento da repressão, o fim da censura e a redemocratização do país. A insatisfação da juventude universitária, com o Regime Militar de 1964, recebeu adesão de escritores e gente do teatro e do cinema perseguidos pela censura.


Findando o contexto histórico e político, voltaremos, agora, nosso olhar à questão literária no Brasil, a qual refletia toda a situação asfixiante, dolorosa, repressora, conseqüente do regime militar ditatorial do país. Autores e escritores tomavam por objetivo relatar o que vivenciavam, o que atribuiu à arte um cunho político e engajado. Cada obra era, então, uma estratégia de denúncia, de conscientização, de apelo à cumplicidade do leitor. Além disso, a repressão política implantou um decreto que estabelecia a censura prévia para livros e publicações. Artistas tiveram necessidade de buscar técnicas para iludir a censura. Então, houve um deslocamento das funções da imprensa para a literatura, pois o que não poderia estar nos jornais, nela estava como "ficção", estória, conto e arte.
Numa carta de Jorge Amado a seu pai ele opina " (...)o decreto que estabelece a censura prévia para livros e publicações é simplesmente monstruoso, profundamente lesivo à cultura nacional, ele coloca o ato da criação literária sob a batuta da polícia. Chega a ser incrível de tão agressivo à vida intelectual. Não creio que exista um só escritor que não proteste contra tal decreto. Quem ficar calado não merece o título de escritor (...) evidentemente não sujeitarei livro meu à Censura. Prefiro deixar de publicar no Brasil(...)". De fato, isto é o reflexo sintomático da violência psicológica que estava sendo exercida sobre os escritores brasileiros.
Em conseqüência da ditadura e da censura, surge o romance-reportagem em nosso quadro literário, principalmente a partir de 1975. Houve uma grande preocupação de historiar, testemunhar, fazer uma literatura documental, muito próxima do jornalismo, do qual chegou a usar fórmulas até então jamais tentadas. Os autores de romances reportagem da década de 70 eram os jornalistas experientes que encontraram nessa nova forma de discurso um espaço não mais existente na imprensa.
Silviano Santiago opina sobre este gênero e reclama a escassez da ficção em nossa literatura, ao estudar a da década posterior: "A literatura dos anos 80 nasce de uma pobreza radical. A ditadura militar serviu apenas para acentuar aquilo que, na literatura brasileira, deu-lhe solo e tranqüilidade: a fidelidade documentária ou sentimental. Chegou-se nas décadas passadas ao fundo do posso da história, que se imobilizou num conservadorismo violento, e ao fundo do poço da ficção, onde se cristalizou o padrão legitimador da produção poética pátria." (As escrituras falsas são, p.307)
Segundo Antônio Cândido: "Na ficção, o decênio de sessenta teve algumas manifestações fortes na linha mais ou menos tradicional de fatura, como os romances de Antonio Callado, que renovou a "literatura participante" com destemor e perícia, tornando-se o primeiro cronista de qualidade do golpe militar em Quarup (1967), a que seguiria a história desabusada da esquerda aventureira em Bar Don Juan(1971). Na mesma linha de inconformismo e oposição, o veterano Érico Veríssimo produziu a fábula política Incidente em Antares(1971), e com o correr dos anos, surgiu o que se poderia chamar ‘’geração da repressão’’, formada pelos jovens escritores amadurecidos depois do golpe dos quais serve de amostra Renato Tapajós, no romance Em câmara lenta (1977), análise do terrorismo com técnica ficcional avançada (apreendido por ordem da censura, foi liberado judicialmente em 1979).
Mas o timbre dos anos 60 e sobretudo 70 foram as contribuições da linha experimental renovadora, refletindo de maneira crispada, na técnica e na concepção da narrativa, esses anos de vanguarda estética e amargura política."
Obras como o Quarup e Reflexos do baile de Antônio Callado, As meninas de Lygia Fagundes Telles, Zero de Ignácio Loyola Brandão, A festa de Ivan Ângelo, Feliz Ano Novo de Rubem Fonseca, As confissões de Ralfo de Sérgio Santana, Incidente em Antares de Érico Veríssimo, Via crucis do Corpo de Clarice Lispector, Maíra de Darcy Ribeiro, a Região Submersa de Tabajara Ruas, Sargento Getúlio de João Ubaldo Ribeiro, A casa da paixão e Tebas do meu coração de Nélida Piñon e As Vedettes de Cassandra Rios têm em comum o contexto sócio-político em que foram produzidos. Cada uma destas obras é um modo diverso de ler a situação política. São estratégias de combater a ditadura pela arte, formas de denunciar: seja pela crueza, seja pela ironia, seja pelo humor, seja pelo fantástico, seja pelo realismo.
Para encerrar, proponho a leitura de quatro romances da década de 70, com a apresentação de seus escritores e uma breve sinopse recolhida a cada um deles, para o melhor entendimento da questão abordada sobre este gênero, o romance-reportagem:

Antonio Callado - A ação de Quarup(1967) transcorre no período que vai do suicídio de Getúlio Vargas(1954) ao golpe militar de 1964 e mostra, sob a ótica do jovem padre Nando, a realidade social e política do Brasil desses tumultuados dez anos.
João Ubaldo – Em Sargento Getúlio(1971), a narrativa está centrada num monólogo, quebrado por alguns diálogos, do sargento da polícia militar Getúlio Santos Bezerra. Ele recebera, como última incumbência antes da aposentadoria, a ordem de prender um adversário de um importante chefe político e levá-lo para Aracaju.

Lygia Fagundes Telles – Em As Meninas(1973), a história se passa na década de 60,na época da ditadura militar.Conta as histórias de três moças:Lorena,Ana Clara e Lia.Todas com suas histórias,elas moram em um pensionato.

Rubem Fonseca – Feliz ano novo(1975) expõe cruamente o contraste entre a classe marginalizada, pobre, e a burguesia, abastada e indiferente ao que acontece na periferia citadina. Teve sua publicação e circulação proibidas em todo o território nacional um ano mais tarde.

Bibliografia e fontes:

A Nova Narrativa Cândido, Antônio. A educação pela noite & outros ensaios. São Paulo: Ática, 1989.
SANTIAGO, Silviano. As escrituras falsas são. In: Revista 34 Letras (número 5/6). Rio de Janeiro: Setembro de 1989
O ROMANCE REPORTAGEM E A CRÍTICA SOCIAL Carla Lavorati ( Graduanda- Bolsista PET-Letras) UNICENTRO Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira ( Pós Doutora) UNICENTRO
Movimento Hippie
http://www.geocities.com/vilardemouros1971/hippies.htm

Romance - reportagem
Talita Beccaris Martins
http://www.vtower.org/cgi-bin/index.cgi?action=viewnews&id=1869

Postado por : Juliana Vizo Barbosa

1968 - Contestação X Repressão

Apesar de você,
Amanhã há de ser outro dia.
Chico Buarque


Em 1964 com o golpe militar, inicia-se uma tentativa de vigília e controle do espaço público. Mas é no ano de 1968 que surge no cenário nacional o que ficará conhecido como a “grande repressão” da ditadura militar que é caracterizada por intervenções diretas, na qual professores e reitores foram afastados, também por invasões policiais para reprimir estudantes e professores que defendiam a liberdade de pensamento, que caracterizava o projeto original da universidade.


Neste mesmo ano os estudantes saem às ruas, nas principais cidades do país, protestando contra a ditadura militar. Os confrontos entre polícia e estudantes se multiplicam, culminando com o assassinato do estudante Edson Luis, ainda menor de idade, no Rio de Janeiro. O brutal assassinato não intimidou os estudantes que promoveram, no Rio, a célebre “Passeata dos Cem Mil”, a maior demonstração pública de repúdio ao regime militar. A violência policial, entretanto, crescia na mesma proporção. A invasão das universidades, a prisão de estudantes tornaram-se rotineiras. Inutilmente os protestos continuaram a ecoar por todo o país. A necessidade de organizar a luta levou os estudantes a realizarem, em São Paulo, na cidade de Ibiúna, no mês de outubro, um congresso para reorganização da extinta UNE. Os órgãos de repressão, todavia, mostraram sua eficiência ao descobrir e desmantelar o congresso, prendendo os participantes. A UNE foi uma das maiores protagonistas da resistência, porém neste período foi desarticulada e só voltou à ativa em 1979.




No período da ditadura todas as ações e declarações que se chocassem contra a moral dominante, a ordem política vigente, ou que escapassem aos padrões de comportamento da moral conservadora, eram vistos como suspeitos. Dentro dessa esfera, o campo musical destacava-se como alvo da vigilância, sobretudo os artistas e eventos ligados à MPB, declaradamente crítica ao regime militar. Portanto. muitos artitas tiveram suas composições censuradas, tais como: Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil, Raul Seixas, Milton Nascimento, dentre outros.


Outra figura de destaque que não se calou durante esta opressão é o poeta Vinicius de Moraes, que estava em Portugal quando recebeu a notícia que havia sido decretado o AI nº 5 e nesta mesma noite em seu show, leu para a platéia que ali estava o poema Pátria minha. Em um ato de coragem ele mostra resistência e repúdio a toda forma de opressão, além de seu amor à pátria.

"A minha pátria é como se não fosse, é íntima/Doçura e vontade de chorar; uma
criança dormindo/É minha pátria. Por isso, no exílio/Assistindo dormir meu
filho/Choro de saudades de minha pátria./Se me perguntarem o que é a minha
pátria direi:/Não sei. De fato, não sei/Como, por que e quando a minha
pátria/Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água/Que elaboram e
liquefazem a minha mágoa/Em longas lágrimas amargas."

Da mesma maneira como tentaram silenciar a voz do poeta continuaram, ao longo do regime militar, perseguindo e censurando outros artistas pois a esfera da cultura era vista como suspeita. O ano de 1968, portanto, foi o auge da sanha autoritária do regime militar, na sua tentativa obstinada de silenciar a elite intelectual presente nas universidades e na cultura brasileira. Mas também foi o ano marcado pela luta, pela contestação e pela resistência às imposições e torturas de um regime autoritarista.

Daniele Rosa

A DÉCADA DE 60

Em meados da década de 60 surgiu uma concentração de fenômenos, os quais os analistas sociais deram o nome de “contracultura”. Enquanto isso, a violência racial e o conflito do Vietnã agitavam os Estados Unidos.
Esse fenômeno denominado “contracultura” teve suas idéias postuladas na juventude da classe média norte-americana. Não é difícil entender porque nos EUA, já que os valores apregoados por essa sociedade moralista, racista, consumista e tecnocrata faziam o jovem adaptar-se a uma realidade mecânica e desprovida de qualquer impulso criativo.
Portanto podemos dizer que os movimentos de contracultura tinham como ponto principal a contestação desse mundo racional e bitolante que prevalecia na sociedade ocidental contemporânea. É dentro desse grande contesto que os jovens buscavam o desejo simples e elementar de felicidade individual.
A música, as roupas o cinema, ou seja, todas as formas de expressão cultural da época mostraram a influencia desse novo modo de vida. Contudo, a musica figurou-se com grande importância ;surgiram os grandes festivais musicais (Woodstock, Altamont e Ilha de Wight). E neles houve a consagração de nomes ainda não conhecidos no meio musical, como por exemplo: Os Beatles.
A contestação dos movimentos de contracultura acendeu a chama da rebelião estudantil. Na França o movimento: Maio de 68, que no começo era um protesto estudantil contra à má adaptação do ensino universitário ao mercado de trabalho, se transformou num movimento contestatório dos estudantes e trabalhadores.
O interesse era contestar as relações de poder vigente na sociedade moderna. No entanto, o desejo revolucionário não se restringiu a um único país (França), ele se expandiu pelos EUA, Inglaterra, Brasil, Tchecoslováquia, Polônia, China, Japão, etc.
Na Tchecoslováquia, os estudantes resistiam à intervenção armada dos soviéticos ( agosto de 68) querendo com isso, interromper a implantação de um novo regime socialista a “Primavera de Praga” de abril de 68. E no Brasil o movimento estudantil intensificava o seu protesto contra a ditadura militar o que provocou a criação do AI5 e o fechamento do congresso nacional.
Como podemos ver, o final da década de 60 foi uma fusão entre cultura e protesto político. Um tempo de muita agitação e esperança, onde os jovens sentiam-se retraídos e incompreendidos por uma sociedade demasiadamente conservadora para compreender o novo mundo que eles estavam oferecendo.

Por Daniela Avelar de Souza