sábado, 7 de junho de 2008

Da Utopia à Subjetividade

Falar sobre o ano de 1968 é, sem sombra de dúvidas, concordar que em seus acontecimentos e desfechos, a mobilização em torno de um objetivo, que no caso foi, primordialmente, a luta pela liberdade de expressão, mostrou-se vital para que qualquer cidadão engajado nessa causa pudesse ter, ao menos, a chance de manter seu lugar na sociedade. Não se pode desconsiderar que também houve aquela massa de conformistas, que queria mesmo somente um lugar no mercado de trabalho ou aqueles que lutando ou não, não sobreviveram à Ditadura para contar história, porém a luta pela Democracia foi um ocorrido emblemático para a nossa sociedade atual.

Apesar da geração de 2008 ter crescido "falando o que quis", oriunda daqueles militantes de 68, observa-se que nesta ainda há resquícios de uma sociedade que viveu sob um regime totalitário, como a desigualdade social entre classes e degradação ambiental. No entanto, isso não significa que nossa geração encontra-se desmobilizada: a diferença é que, atualmente, a mesma age em diferentes formas de militância, segmentada em várias causas, através de ONGs e projetos, não mais precisando "protestar pelo direito de protestar", buscando sempre a continuidade da luta iniciada em 68.

Além do movimento estudantil ter tido um papel decisivo na luta contra o regime militar, mostrando em seu bojo variadas tendências político-ideológicas, o mesmo conduziu um movimento de criação cultural-artístico que representou também uma forte resistência ao regime militar e funcionou como uma espécie de "válvula de escape" para movimentos mais engajados dessa juventude: os festivais de música.
Promovido por algumas emissoras de televisão desde 1965, os festivais só tiveram maior projeção em 1968, onde em um desses, Geraldo Vandré cantou os versos da canção Pra dizer que não falei de flores, contando com o coro de 20 mil "jovens" vozes, fazendo de maneira inquietante, uma alusão ao grave conflito social da época, numa sociedade que estava às vésperas de sofrer o AI 5.
Outro movimento que também, sem dúvida, representava oposição ao regime militar, foi a Tropicália, que misturava canção de protesto e uma estética antropofágica, ou seja, fazia uma releitura daquele experimetalismo de Oswald de Andrade e seus companheiros modernistas de 1922.
Após a decretação do AI 5, no final de 68, quase todos esses movimentos culturais sofreram a forte coerção da censura e repressão do regime militar. A solução encontrada por artistas como
Chico Buarque e Milton Nascimento, estes que faziam parte de um "hall" de intérpretes e compositores que sofreram com a perseguição do sistema da época, foi explorar em suas novas composições a linguagem metafórica das palavras, apresentando, então, um "novo caráter estético", uma capacidade intelectual que indiretamente mostrava a eterna utopia da espera por melhores dias.
Um dos problemas que talvez afete o engajamento na luta por mudanças de modo generalizador, é que atualmente, em nossa sociedade, não se tem mais a mesma certeza de que seus jovens podem conseguir, por exemplo, um lugar no mercado de trabalho, visto que as possibilidades de uma provável ascensão social nos dias de hoje é mais viável, devido a políticas afirmativas como o PROUNI, que viabiliza o ingresso de um número maior de jovens à Universidade, por conseguinte um número maior de trabalhadores qualificados na disputa desse mesmo mercado, que torna-se mais seletivo. Diferentemente de um certo grupo de jovens de 68, que conseguia ingressar num curso de graduação, a certeza do alcance de um espaço no mercado de trabalho era possível, pois este grupo representava uma minoria na população da época.
O fato é que a ausência da certeza gerou, em nós, uma sociedade individualista, ou seja, onde os indivíduos só se preocupam consigo mesmo, mas que, no entanto, não deixa de fazer suas mobilizações, mesmo que estas ocorram do seu próprio jeito, de maneira estanque. Talvez a única coisa que falte a nossa geração é o que foi, de certa forma, abandonado pelo saudoso Carlos Drummond de Andrade em 68, quando o mesmo passa a escrever livros memorialistas, pois ao ver o Brasil mergulhar num profundo autoritarismo, volta-se ao seu passado psicológico, portanto deixando de lado os ideais sociais utopistas, que almejava um Estado que fizesse a felicidade de todos e não o acúmulo de poder.

Postado por Priscilla Salles de Barros

Um comentário:

Wolf disse...
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