segunda-feira, 9 de junho de 2008

1968 - Contestação X Repressão

Apesar de você,
Amanhã há de ser outro dia.
Chico Buarque


Em 1964 com o golpe militar, inicia-se uma tentativa de vigília e controle do espaço público. Mas é no ano de 1968 que surge no cenário nacional o que ficará conhecido como a “grande repressão” da ditadura militar que é caracterizada por intervenções diretas, na qual professores e reitores foram afastados, também por invasões policiais para reprimir estudantes e professores que defendiam a liberdade de pensamento, que caracterizava o projeto original da universidade.


Neste mesmo ano os estudantes saem às ruas, nas principais cidades do país, protestando contra a ditadura militar. Os confrontos entre polícia e estudantes se multiplicam, culminando com o assassinato do estudante Edson Luis, ainda menor de idade, no Rio de Janeiro. O brutal assassinato não intimidou os estudantes que promoveram, no Rio, a célebre “Passeata dos Cem Mil”, a maior demonstração pública de repúdio ao regime militar. A violência policial, entretanto, crescia na mesma proporção. A invasão das universidades, a prisão de estudantes tornaram-se rotineiras. Inutilmente os protestos continuaram a ecoar por todo o país. A necessidade de organizar a luta levou os estudantes a realizarem, em São Paulo, na cidade de Ibiúna, no mês de outubro, um congresso para reorganização da extinta UNE. Os órgãos de repressão, todavia, mostraram sua eficiência ao descobrir e desmantelar o congresso, prendendo os participantes. A UNE foi uma das maiores protagonistas da resistência, porém neste período foi desarticulada e só voltou à ativa em 1979.




No período da ditadura todas as ações e declarações que se chocassem contra a moral dominante, a ordem política vigente, ou que escapassem aos padrões de comportamento da moral conservadora, eram vistos como suspeitos. Dentro dessa esfera, o campo musical destacava-se como alvo da vigilância, sobretudo os artistas e eventos ligados à MPB, declaradamente crítica ao regime militar. Portanto. muitos artitas tiveram suas composições censuradas, tais como: Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil, Raul Seixas, Milton Nascimento, dentre outros.


Outra figura de destaque que não se calou durante esta opressão é o poeta Vinicius de Moraes, que estava em Portugal quando recebeu a notícia que havia sido decretado o AI nº 5 e nesta mesma noite em seu show, leu para a platéia que ali estava o poema Pátria minha. Em um ato de coragem ele mostra resistência e repúdio a toda forma de opressão, além de seu amor à pátria.

"A minha pátria é como se não fosse, é íntima/Doçura e vontade de chorar; uma
criança dormindo/É minha pátria. Por isso, no exílio/Assistindo dormir meu
filho/Choro de saudades de minha pátria./Se me perguntarem o que é a minha
pátria direi:/Não sei. De fato, não sei/Como, por que e quando a minha
pátria/Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água/Que elaboram e
liquefazem a minha mágoa/Em longas lágrimas amargas."

Da mesma maneira como tentaram silenciar a voz do poeta continuaram, ao longo do regime militar, perseguindo e censurando outros artistas pois a esfera da cultura era vista como suspeita. O ano de 1968, portanto, foi o auge da sanha autoritária do regime militar, na sua tentativa obstinada de silenciar a elite intelectual presente nas universidades e na cultura brasileira. Mas também foi o ano marcado pela luta, pela contestação e pela resistência às imposições e torturas de um regime autoritarista.

Daniele Rosa

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