segunda-feira, 23 de junho de 2008

Carlos Drummond de Andrade e seu olhar para o passado em 1968

Em 28 de março de 1968, Edson Luis, estudante secundarista carioca, foi morto numa operação policial de repressão a um protesto em frente ao restaurante universitário “Calabouço”. Deu-se uma comoção nacional que mobilizou, no enterro do jovem, uma multidão de 50 mil pessoas.
A partir desse momento, o Brasil entraria nos dez meses mais tensos e convulsionados da sua história desde o pós-guerra. A insatisfação da juventude universitária com o Regime Militar de 1964 recebeu adesão de escritores e pessoas ligadas ao teatro e ao cinema perseguidos pela censura. As principais capitais do país, principalmente Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, em pouco tempo se tornaram praça de guerra onde estudantes e policiais se enfrentavam quase que diariamente. Cada ação repressora mais excitava a juventude à oposição. Naquela altura apenas os estudantes enfrentavam o regime, pois os líderes civis da Frente Ampla (Carlos Lacerda, JK e João Goulart) haviam sido cassados.
Em outubro, ao organizar clandestinamente o 30º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), o movimento estudantil praticamente se suicidou. Descobertos em Ibiúna, no interior de São Paulo, 1200 foram presos. Como coroamento do desastre, o regime militar sob chefia do General Costa e Silva, decretou, em 13 de dezembro, o AI-5.
Para quem vinha com os sonhos de país grande e desenvolvido, que estava em vias de generalizar a educação básica para todos, fazer a reforma agrária que tiraria o campo da Idade Média, hospedar e desenvolver a indústria moderna, esse golpe e sua conseqüentes represálias foram um golpe quase letal, percebido principalmente na Literatura.
Se considerarmos que na década de 1960 o Brasil acompanhava ao vivo o auge da carreira e do talento de escritores como Manuel Bandeira, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Mario Quintana, entre outros.
O que essa gente representava, vista à distância de mais de 40 anos, era a esperança, quase a certeza, de que, estando maduros em matéria de produção literária, poderíamos esperar maturidade também na outra ponta do processo, a leitura, a criação e o desenvolvimento de leitores, massas de leitores, para usufruir tal e tamanha qualidade. As gerações em atuação naquele momento, somadas ao patrimônio anterior já produzido na língua - Camões, Vieira, Machado, Fernando Pessoa, Graciliano - , nos autorizava a sonhar com uma comunidade real de leitores, que deixaria no passado as terríveis sombras sociais que por tanto tempo excluíram a população do ensino, da leitura, da inteligência formal.
Mas veio o Golpe de 64, que em 1968 ganharia contornos mais restritivos ainda contra o exercício da inteligência. Nesse contexto, alguns escritores como por exemplo João Cabral de Melo Neto é perseguido por ousar não se enquadrar na censura, outros preferem sair do país, como Murilo Mendes e ainda existem os que resolvem não falar do momento em que se encontram e sim voltar-se para o passado, como é o caso de Carlos Drummond de Andrade.
Em 68, Drummond publica Boitempo, livro de recordações poéticas da infância, um momento em que o menino faz a passagem do mundo rural para o colégio interno. A roça está representada no boi, um animal calmo, que rumina indefinidamente os alimentos, simbolizando também a própria condição memoralística deste “eu” que não termina nunca de digerir suas recordações.
Muitos poemas de Drummond funcionam como denúncia da opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra. A temática social, resultante de uma visão dolorosa e penetrante da realidade, predomina em Sentimento do mundo (1940) e A rosa do povo (1945), obras que não fogem a uma tendência observável em todo o mundo, na época: a literatura comprometida com a denúncia da ascensão do nazi-fascismo. A consciência do tenso momento histórico produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida, pergunta para a qual o poeta só encontra uma resposta pessimista.
O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond e sempre como antítese para uma realidade presente. A terra natal - Itabira - transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta. E é justamente esse passado que invade a sua obra, e é essa Itabira que serve como válvula de escape para ele não falar do período crítico em que vive em 68.
Nos primeiros livros, a ironia predominava na observação desse passado; mais tarde, o que vale são as impressões gravadas na memória. Transformar essas impressões em poemas significa reinterpretar o passado com novos olhos. O tom agora é afetuoso, não mais irônico. Da análise de sua experiência individual, da convivência com outros homens e do momento histórico, resulta a constatação de que o ser humano luta sempre para sair do isolamento, da solidão.
Não que as produções literárias desse período sejam medíocres, elas só não tem o objetivo de se comprometer, de serem contestatórias do sistema. E justamente por isso o título ser “o ano que derrubou a literatura” no sentido de que não temos grandes obras que retratam o período, evidenciando a grande censura e conseqüente perseguição aos artistas mais ousados.
Drummond é crítico ao tratar da opressão que marcou a Segunda Guerra Mundial, pois por mais que o Brasil tenha sentido as conseqüências, sua obra não sofreria retaliações, fato que muda com o golpe militar e que fica bem claro na postura adotada em 1968.
A literatura precisa de liberdade, calar o poeta é cegar os leitores, é ocultar das futuras gerações o passado que eles receberam de herança. Apesar de se considerar 1968 como o ano que não acabou devido a uma série de resquícios que perduram até hoje, não podemos voltar ao passado, pois nos é precária uma literatura-reportagem, um retrato da sociedade e dos grandes cérebros da época. E a isso só nos resta lamentar.

Por Suzane Pacheco Martins Pereira

segunda-feira, 16 de junho de 2008

JOÃO GUIMARÃES ROSA (1908-1967)

Grande renovador da prosa de ficção, João Guimarães Rosa marcou profundamente a literatura brasileira. Nascido na cidade de Cordisburgo (MG), formou-se em Medicina na cidade de Belo Horizonte (1930). Após clinicar algum tempo nos confins do Estado mineiro, onde aprendeu os segredos e as falas do sertão que marcariam sua obra, entrou para a carreira diplomática (1934), indo servir em Hamburgo, Baden-Baden, Lisboa, Bogotá e Paris. Dividido entre a literatura e a carreira diplomática, fez longas viagens pelo interior de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Bahia, anotando os maneirismos de fala de jagunços, vaqueiros, prostitutas e beatas colhidos em conversas. Assim revolucionou a prosa brasileira e foi aclamado pelo público e pelos críticos ao escrever seu primeiro livro de contos: Sagarana (1946).
Combinando o erudito com o arcaico e com as expressões populares, transformou a semântica, subverteu a sintaxe e apresentou ao leitor quase um novo idioma para contar as histórias da gente do sertão. Mais tarde publicou Corpo de Baile (1956), um conjunto de sete novelas, e o livro mais polêmico da literatura brasileira do século XX – Grande Sertão: Veredas (1956). Na construção da personagem principal (Riobaldo), fundiu o cotidiano com o requintado, o regional com o erudito, o folclore com a cultura livresca, o real com o fantástico e superou o regionalimo ao compor, numa narrativa épica/mítica, a própria condição humana. Ainda vieram Primeiras Histórias (1962), reunindo 21 contos curtos, e Tutaméia (1967), conjunto de 40 contos. Faleceu no Rio de Janeiro, três dias depois de tomar posse na Academia Brasileira de Letras. Posse esta que sempre adiara, temendo a emoção de vestir o fardão da Academia.
Os poemas foram selecionados do primeiro livro do autor – Magma –, escrito em 1936 e editado em 1997, pela Ed. Nova Fronteira, no Rio de Janeiro.

MADRIGAL( GUIMARÃES ROSA )
No tronco do jequitibá,que estavas abraçando,colando-lhe o corpo, do rostinho aos pés,vejo os arranhões fundo,onde o canguçu, quase de pé,afia as garras,e, mais embaixo, a casca estraçalhada,onde os caititus vêm acerar os dentes...

Por Daniela Avelar de Souza

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A Influência da Música da Literatura e do Filme na Sociedade.


Quando surgiu a publicação de livros impressos ou seja o avanço tecnológico, facilitou a propagação de ideias, porque antes os livros eram escritos a mão, a vida mudou . Poderíamos ter varias copias de um mesmo exemplar, nem toda sociedade teve acesso a materiais da época , na qual ficava restrita a uma camada social mais elevada.

Com passar dos tempos todas as camadas puderam ter contado com todo e qualquer tipo de informação. Inclusive eles foram usados para construir um movimento de propagar ideias contra o militarismo, a censura , ou seja, contra qualquer tipo de opressão com a sociedade.

Em 1968, tivemos essas manifestações muito nítidas com diversos cantores, diretores de cinema e escritores. Todos visavam a liberdade, não só de expressão. Mas de um governo que limitava todo e qualquer ato , exilando aqueles que eram contra qualquer pensamento estabelecido pelos militares. Foram feitas músicas, filmes e livros.

Glauber rocha que dirigiu o filme "Terra em Transe", premiado em Cannes , mostrava fielmente a situação que se encontrava o Brasil, com a sua miséria, a injustiça e a corrupção. Tudo isso foi intencional.

Quando assistiu o filme essa mesma realidade é a que vivemos hoje. Parece que tudo continuou o mesmo. Vivemos em uma sociedade que poucos falam, muitos ainda se calam e não lutam por seus direitos.
Ele acabou sendo exilado como Caetano Veloso e Gilberto Gil que também fizeram o slogan "É Proibido Proibir " e "Alegria, Alegria" virando um hino contra o governo militar.


A música chegava ate os estudantes e ao povo.. O cinema era uma forma de mostrar entre uma ficção uma realidade.

Hoje temos lutas, talvez mais fracas do que em 1968 mas lutamos e estudamos por um país melhor com menos desigualdades e impunidades, mas ainda encontramos um país corrupto uma universidade desvalorizada, miséria, má distribuição de renda, igual o melhor que 1968. Devemos seguir o exemplo dos estudantes do passado e lutar...

Postado por: Suenne Briggs

terça-feira, 10 de junho de 2008

Juventude revolucionária: o ideário de 68 e a força hip hop


O ano de 68 é citado como ano da “conquista da liberdade”. Sem dúvida, este ano emblemático resultou em grandes conquistas para a sociedade ocidental, as quais são conseqüências da luta pela igualdade entre homens e mulheres, pelos direitos dos gays, pela igualdade entre negros e brancos, pela valorização das crianças, pelo direito ao divórcio, pelos direitos do trabalhador, pelas reformas na educação, pela liberdade sexual e pela democracia. Atualmente a sociedade reconhece os ganhos obtidos através de todas essas bandeiras levantadas naquela época, mas há quem diga que não existem mais bandeiras sendo defendidas.

Pode-se considerar 68 um ano paradoxal, pois, em meio a ditadura e toda a repressão representada por esse sistema de governo, via-se posicionamentos políticos e lutas por causas libertárias. Esse paradoxo leva a crer que o regime ditatorial da época foi um estímulo para se pensar na coletividade. Talvez o pensamento coletivo só tenha sido possível porque as preocupações individuais eram semelhantes. Possivelmente o homem de 68 viveu o período das utopias porque lutava por aquilo que é caro a todos os homens: a liberdade. Por que não acreditar que a busca de cada cidadão pela sua própria libertação tenha possibilitado o pensamento e as ações coletivas? Mas, apesar de ter gerado muitas conquistas à sociedade, a intensa defesa da liberdade pode ter sido responsável pela libertação inconseqüente que se vê nos dias de hoje, ou seja, pela falta de limites, pelas atrocidades, pela banalização da morte e do desrespeito ao próximo.

Com o término da ditadura, a democracia passou a ser vista, cada vez mais, como sistema representante da liberdade, porém, esse sistema de governo não corresponde às expectativas da juventude de 68. Em se tratando da educação brasileira, por exemplo, não se pode dizer que esta é libertária. O sistema educacional ainda auxilia a manter as mesmas relações de poder e funciona como uma mercadoria, uma forma de ingresso no mercado de trabalho, ao invés de funcionar como um meio de acesso à cultura, aos direitos dos cidadãos e às possibilidades de mudanças sociais. A falta de crença no regime democrático e a não existência de um inimigo comum, que antes era representado pela ditadura, leva ao pensamento de que as revoluções ou as reivindicações foram deixadas de lado, porém, existem movimentos atuais que não permitem que o desejo de liberdade e que a vontade de tornar a sociedade mais igual e mais humana morram. Entre esses movimentos está o hip hop.

Os anos de 1967 e 1968 representaram o auge dos festivais da canção no Brasil, que eram formas alternativas de expressão político-ideológica da juventude. A música era um meio de divulgação do ideário simbolizado pelo ano de 68, e de protesto diante da repressão da ditadura militar. Ainda hoje, vê-se que a música é uma poderosa arma de reivindicação. Em vista disso, é válido analisar e contrapor dois perfis de protesto: a música de 68 e a música do movimento hip hop.

Para este artigo, escolheu-se analisar brevemente as canções Apesar de você, de Chico Buarque, lançada em 1970 e Fogo no pavio, do rapper Gog, de Brasília, que difundiram as causas da luta dos jovens dessas duas épocas.




Apesar de você (Chico Buarque)

Hoje você é quem manda / Falou, tá falado / Não tem discussão, não / A minha gente hoje anda /Falando de lado / E olhando pro chão, viu/ Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda escuridão / Você que inventou o pecado / Esqueceu-se de inventar / O perdão

Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Eu pergunto a você / Onde vai se esconder / Da enorme euforia / Como vai proibir / Quando o galo insistir / Em cantar / Água nova brotando / E a gente se amando / Sem parar

Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros, juro / Todo esse amor reprimido / Esse grito contido / Esse samba no escuro / Você que inventou a tristeza / Ora, tenha a fineza / De desinventar / Você vai pagar e é dobrado / Cada lágrima rolada / Nesse meu penar Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / 'Inda pago pra ver / O jardim florescer / Qual você não queria / Você vai se amargar / Vendo o dia raiar / Sem lhe pedir licença / E eu vou morrer de rir / Que esse dia há de vir / Antes do que você pensa

Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Você vai ter que ver / A manhã renascer / E esbanjar poesia / Como vai se explicar / Vendo o céu clarear / De repente, impunemente / Como vai abafar / Nosso coro a cantar / Na sua frente / Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Você vai se dar mal / Et cetera e tal, lá laiá la laiá lá ...


A música de Chico Buarque é uma reação contra a ditadura. Pode-se observar, nessa letra, pistas que revelam o tema da canção e o ideal do autor. A começar pelo título “Apesar de você”, é possível inferir que “você” diz respeito ao regime militar ditatorial da época.

Na primeira estrofe o verbo “mandar” reflete uma prática comum da ditadura. Após esse verbo ainda se vê outras pistas que remetem a esse sistema de governo, como os versos “Falou, tá falado / Não tem discussão, não”. Esses dois versos demonstram a falta de liberdade de expressão ou a impossibilidade de uma contra-argumentação no momento. Ainda na primeira estrofe, os versos “Falando de lado / E olhando pro chão, viu”, criam uma imagem do comportamento dos brasileiros que viveram nesse período. A imagem criada retrata o medo e a submissão daqueles cidadãos ao regime.

O refrão “Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia” demonstra que a canção expressa motivação e esperança em relação ao fim daquele sistema de governo.

Na segunda estrofe vale ressaltar os versos “Como vai proibir quando o galo insistir/ Em cantar”, pois esses expressam pistas importantes ao contexto da ditadura. O verbo “proibir” faz referência a uma prática do regime ditatorial em relação à liberdade de expressão, a qual é traduzida por “quando o galo cantar”. Ainda nessa estrofe, nos versos “Água nova brotando/ E a gente se amando/ Sem parar”, o primeiro verso pode ser compreendido como o novo sistema de governo que substituiria o regime militar, um sistema mais libertário, na opinião do autor, o que pode ser visto nos dois versos seguintes, os quais tratam da liberdade sexual, uma das causas defendidas pela juventude de 68.

Na terceira estrofe o autor fala do seu próprio sofrimento em relação à repressão, a qual é explicitada nos quarto, quinto e sexto versos dessa mesma estrofe, que citam o “amor reprimido”, o “grito contido” e o “samba no escuro”. Pode-se interpretar o “amor reprimido” como uma referência à falta de liberdade sexual, e o “grito contido”, assim como o “samba no escuro”, como uma menção à falta de liberdade de expressão. Nos sétimo, oitavo e nono versos, o compositor nos diz que a tristeza foi uma invenção da ditadura, logo, acabaria quando este regime terminasse. Nessa mesma estrofe, observa-se ainda as palavras “lágrima” e “penar”, as quais remetem ao sofrimento. O compositor afirma que o regime ditatorial pagará em dobro cada lágrima rolada por esse penar, o que demonstra que o intuito da canção é motivar a ocorrência de ações contra a ditadura, e tratar essa postura de forma esperançosa.

Os seis últimos versos da quarta estrofe também revelam essa postura de enfrentar a ditadura. Os versos “E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há de vir/ Antes do que você pensa” demonstram a confiança na luta contra o regime militar e a certeza que este está chegando ao fim.

Na quinta estrofe, o autor utiliza, mais uma vez, palavras que remetem às ações ditatoriais, que são “impunemente” e “abafar”, as quais fazem menção à liberdade ou não de ação e expressão.

Na última estrofe da letra é reforçada a postura agressiva, ou revolucionária, contra a ditadura, o que se observa nos versos “Você vai se dar mal/Et cetera e tal...”

Antes de analisar a música “Fogo no pavio”, é preciso saber um pouco mais sobre o movimento rapper.

O que se percebe através da cultura hip hop e da sua vertente musical, o rap nacional, é a participação jovem diante da realidade política e social, que não atende às expectativas da juventude.

O grito do movimento reivindica, antes de tudo, a emergência de novos modelos e patamares de cidadania. Ao notarem o descaso com que os pobres e suas demandas são tratadas, os “rappers” resolvem, então, dar destaque a assuntos, até então, excluídos dos debate, de sorte que, a violência e todas as suas matizes: orfandade, desemprego, enfim, tudo aquilo que se relaciona com a pobreza, é agora exposto sem maquiagem pelos “rappers” em suas crônicas musicais.

O movimento “rapper”, devido ao sofrimento gerado por sucessivas segregações, provocou ódio, acumulou forças e inspirou uma inédita resistência dos jovens periféricos contra as tiranias do capital e a mesmice do cotidiano. A exemplo de outros grupos juvenis da atualidade, os “rappers” não demonstram interesse em propor grandes transformações sociais, querem simplesmente alertar, expor a dramática situação em que estão imersos e, com isso, cobram mais participação no jogo democrático. Essa estratégia de não veicular nenhum ideal de projeto alternativo em suas manifestações confunde a cultura consensual, desperta suspeita nas lideranças dos movimentos sociais, que acusam os “rappers” de flertarem, freqüentemente, com o mundo da ilegalidade.

A partir do momento que visualizam sua condição de consumidores falhos, os “rappers” propõem uma rediscussão, vale dizer, uma intervenção nos espaços públicos, sugerindo mudanças em sua geografia. Para essa discussão, eles não se apresentam, entretanto, de maneira cordial; potencializam, ao contrário, seus discursos e suas intervenções com uma forte ira social. A cultura hip-hop tem se firmado como um importante meio de aglutinação para os jovens de periferia debaterem as contradições contemporâneas que incidem diretamente em suas vidas. Portanto, mais do que estranhos, seus membros são incômodos, pois teimam em trazer à tona o avesso do país, implodindo a “rocha sobre a qual repousa a segurança da vida diária”.

Para além do discurso radical e inflamado, bem como o do exclusivismo territorial que evocam em suas músicas, os “rappers” buscam, também, o respeito e o reconhecimento da sociedade. Daí a obstinação que se manifesta, entre outras formas, no anseio de fazer um curso superior, de ter carro, ou mesmo de ter uma moradia: “(...) vencer é estudar, fazer uma faculdade, mudar para zona sul, ter carro e uma casa. Eles têm que conseguir o espaço que agora é só do playboy”, diz MV BILL, uma das figuras mais marcantes deste cenário.

Primeiro, foi o inocente apelo pacifista “paz e amor” criado pelas comunidades “hippies” nos anos 60; em seguida, veio o estimulante bordão “punk” “faça você mesmo”; e, mais recentemente, ecoa o grito de justiça social da “República dos Manos”, cobrando participação no jogo comunicativo. “O ‘rap’ é uma arte popular pós-moderna que desafia algumas das convenções estéticas mais incutidas, que pertencem não somente ao modernismo como estilo artístico e como ideologia, mas à doutrina filosófica da modernidade e à diferenciação aguda entre as esferas culturais”. (SHUSTERMAN, 1998: 144).

“60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial. A cada quatro pessoas mortas pela polícia três são negras. Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros. A cada quatro horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo”. (Racionais MC’s, do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, de 1997).

“A máscara pode ser uma cabeleira extravagante ou colorida, uma tatuagem original, a reutilização de roupas fora da moda (...). Em qualquer caso, ela subordina a persona a esta sociedade secreta que é o grupo afinatário escolhido. Aí existe a ‘desindividualização’, a participação, no sentido místico do termo, a um conjunto mais vasto.” (MAFFESOLI, 1988: 128)

Ao se analisar a letra da música Fogo no Pavio, escrita pelo ativista Gog, como prefere ser chamado, percebe-se que diz respeito a uma abordagem mais ampla das regras e dos costumes que os jovens da contemporaneidade, principalmente os que moram nos subúrbios e favelas, possuem, além de expressar o modo como eles se comunicam. Os aspectos abordados na música refletem, geralmente, questões decisivas dos conflitos urbanos: violência, criminalidade, segregação, ocupação dos espaços públicos, entre outros. Quem mais sofre as conseqüências desse conflito são os jovens, e talvez, por isso, percebe-se, nesse segmento, uma elaboração mais intensa de alternativas de convívio social.


Fogo no pavio (GOG)

Amanheceu e as paradas lotadas, o mesmo gado já não tão novo e suas marcas, o calor, a multidão, a fila pra (pra pra) pegar a condução. A escravidão, as chibatadas levadas na senzala se mantém vivas todo dia ano quarto sala: amordaçados por horas em frente à televisão! Efeito bem pior que o da radiação... "País infeliz, bombardeado pela alegria" Tom Zé define assim expressando sabedoria! Vou lhe fazer uma confissão um desabafo: às vezes sinto vontade de jogar tudo pro alto! Mas que nada! Não vou me entregar às armas ou à guerra, quem sabe faz a hora não espera. FHC Joaquim Silvério dos Reis dos dias atuais, traidor da nação, um dólar a mais! Caixa dois até a boca! Dignidade é pouca! Impune, à solta, merece a forca! Vendeu a própria alma sem trauma! Dificilmente esse, o salmo salva! Poesia, verso, rima, prosa! Envenenado pelos livros, Em Nome da Rosa! Infância proibida! País infanticida! 57 mil se vão na primeira semana de vida! Fábrica de anjos. A marmita do pai ao laudo, somado ao saneamento básico confira o saldo: Brasil pecado, realidade trágica, estômagos vazios à espera de cestas básicas... Salário mínimo: atentado, incentivo ao crime maluco! Congresso, Planalto assalto de vida em um lucro! Xadrez! De vez! Para esses canalhas! Ou que ardam nas fornalhas, pagando por suas falhas!

Revolucionários do Brasil! Fogo no pavio! Fogo no pavio! Fogo no pavio!

O pé inchado, mãos calejadas, já pegou pesado na enxada! A prostituta odiada sonha ver a filha formada! Povo nas ruas é dinamite, campo minado, exigindo 20 de novembro feriado! Zumbi o herói dos libertários guerreiro daqui! DMN "H. Aço" é necessário ouvir", ler Ferréz, Sérgio Vaz, e quem sabe se libertar das algemas da carne! Fábrica da Vida motor que trabalha 24 horas por dia! Nó na garganta, lembranças, álbuns, fotos, fotografias: combustíveis altamente inflamáveis pra mim! Caros Amigos, Princípios, Pasquim! Eu vi a célula-mãe se multiplicar, eu vejo o câncer, querendo se instalar. Nas artérias tenho o sangue da indignação, G.O.G. (G.O.G! G.O.G! Guerreiro da Revolução!) Querem fazer do Brasil e da América Latina uma latrina! Segue assim a diária chacina! Espancamentos, processos lentos sem punição, um seriado sem fim, uma ficção. Capitalismo puro é isso! O feto dejeto no lixo! Negociação com o patrão por um salário fixo... Fio condutor, o torturador da gravata, que no dia da eleição te transporta de graça! Embalsamados pelo manto da desordem! Se dizem líderes de uma geração! Até no travesseiro recebem ordens chega! Basta! Não! (Não! Não!) Surge o embrião! O trem da vida prepara a partida está bem vazio, a burguesia que valoriza a carne perderá o espírito! Xadrez! Devez! Para esses canalhas! Ou que ardam nas fornalhas, pagando por suas falhas!

Revolucionários do Brasil! Fogo no pavio! Fogo no pavio! Fogo no pavio!

Família G.O.G. pode crê... Paz então irmã, então irmão! <> Como maltratam o Brasil: ACM, FHC, o Sistema é a bomba e o pavio: só que o Preto aqui é o estopim em vinil!

Revolucionários do Brasil! Fogo no pavio! Fogo no pavio! Fogo no pavio!
(Para a vítima Brasil....... o Brasil)

A música do ativista GOG é uma reação à sociedade opressora, as diferentes realidades sociais vivenciadas nas grandes metrópoles urbanas. O meio de expressar, o grito dessa parcela jovem da população com pouca instrução manifesta a emergência de novos modelos e patamares de cidadania. A música começa uma narração descritiva sobre o início de um dia de trabalho, pessoas acordando cedo, indo pegar suas conduções para mais um dia árduo de trabalho como gados ou escravos - forçados, impelidos. O narrador chega a esboçar algum tipo de vontade de abandonar a vida cotidiana, de acabar com a rotina desumana de boa parte da população.

Para logo em seguida fazer uma referência a famosa música de Geraldo Vandré - Para não dizer que não falei das flores e seu tão repetido refrão Quem sabe faz a hora não espera acontecer... Na música Fogo no pavio, a referência perpassa questões sociais com a imposição da violência como meio de sobrevivência refutado pelo narrador. Não vou me entregar às armas ou à guerra, quem sabe faz a hora não espera. A politização da letra e a mensagem passada de forma agressiva são características fundamentais no rap.

Essa nova forma de pensar a cultura e a expressão de uma parcela antes esquecida fazem do movimento hip hop uma das vertentes mais atuantes na busca da igualdade social.

Na segunda parte, há a seguinte passagem A prostituta odiada sonha ver a filha formada!/Caros Amigos, Princípios, Pasquim!. Esses trechos demonstram como a parcela mais desprovida da população ainda acredita na educação como forma de ascender socialmente. Embora os contextos da música do Chico Buarque e do GOG sejam completamente diferentes, o que os une é a expressão do desejo de mudança expressado especialmente por jovens. A repressão da ditadura ou do capitalismo mais exacerbado produzem nos jovens uma desindividualização, uma vontade coletiva de mudança.

Observando essas duas canções, pode-se perceber que, mesmo seguindo estilos diferentes, as duas são formas de protesto. A primeira é obviamente menos explicita, faz uso de ambigüidades, já que vivia-se em um contexto ditatorial, a segunda, entretanto, é direta, e menciona, inclusive, nomes de personalidades com as quais o movimento possui ou não afinidades.

Após ler e comparar as músicas, conclui-se que o ideal revolucionário tão defendido em 68 não se perdeu, apenas se expressa hoje de muitas maneiras diferentes. Talvez a diferença mais marcante entre esses dois movimentos seja a classe que eles atingiram. Em 68 os revolucionários eram os estudantes, professores e intelectuais da sociedade brasileira, já os revolucionários do movimento rapper são vistos de forma preconceituosa e são considerados marginalizados muitas vezes.

A música de hip hop, aqui analisada, mostrou que temas como a luta por melhores condições de vida, o que inclui o direito ao saneamento básico, à alimentação saudável, a salários mínimos dignos, a um emprego e à oportunidade de estudo; a luta contra a corrupção, contra o infanticismo, contra o racismo, contra os espancamentos, contra a compra de votos; e o clamor por justiça são preocupações do movimento.

Em 68, lutava-se pela igualdade entre homens e mulheres, pelos direitos dos gays, pela igualdade entre negros e brancos, pela valorização das crianças, pelo direito ao divórcio, pelos direitos do trabalhador, pelas reformas na educação, pela liberdade sexual e pela democracia. Já em 2008, as lutas são, dentre outras coisas, contra a violência, a criminalidade, a segregação e a ocupação dos espaços públicos. Embora os dois movimentos tenham atingido classes diferentes e priorizado lutar por causas diferentes, não se pode negar que os jovens dessas duas épocas fizeram com que suas vozes fossem ouvidas e com que suas causas fossem respeitadas. Que a juventude continue sempre revolucionária e que a sociedade aprenda com ela!


Naira de Almeida Velozo, Natasha Gonçalves Otsuka & Ricardo Thomé da Costa



Alegria, Alegria: Vida e morte do Tropicalismo

A Tropicália foi o avesso da Bossa Nova

Caetano Veloso

O movimento tropicalista teve início em meados de 1967, mas só passou a carregar este nome a partir de 5 de fevereiro de 1968, quando o jornalista Nelson Motta publicou o artigo “ A Cruzada Tropicalista” no jornal “Última Hora”. O texto falava de um grupo de músicos, cineastas e intelectuais brasileiros que fundava um movimento cultural de alcance internacional.

Cansados do elitismo e do preconceito nacionalista que dominavam o ambiente da música popular brasileira pós- Bossa Nova, um seleto grupo formado por músicos e intelectuais, liderados pelo baiano Caetano Veloso, resolveu após muita discussão arejar o cenário musical do país. A saída para esse marasmo musical seria aproximar a música brasileira dos jovens, que cada vez mais se mostravam seduzidos por ritmos americanos: o pop, o rock dos Beatles e o iê- iê-iê da Jovem Guarda.

O Tropicalismo acabou incorporando elementos da cultura pop estrangeira à cultura brasileira, uma filosofia estética e radical própria da Tropicália, inspirada no movimento antropofágico, idealizado por Oswald de Andrade e outros modernistas na década de 20. Gilberto Gil, Tom Zé, os letristas Torquato Neto e Capinam, o maestro e arranjador Rogério Duprat, o trio Mutantes e as cantoras Gal Costa e Nara Leão também participaram ativamente deste movimento, que, mais do que como um estilo musical, pretendia se impor como uma atitude crítica perante a cena cultural do país.

Canções como Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, ficaram conhecidas como marcos oficiais do movimento que, ao longo de 1968, revolucionou o status quo da música popular brasileira. Mas, nem tudo foi flores. As composições, que foram apresentadas ao público no III Festival da Musica Popular Brasileira da TV Record, em outubro de 1967, não foram bem recebidas pela chamada linha dura do movimento estudantil. As guitarras elétricas e a atitude roqueira foi celebradas com vaias e insultos pelos que reconheciam o estilo como símbolo do imperialismo norte-americano. Estavam a partir daí lançadas as bases para o Tropicalismo.

Mas, polêmicas à parte, tanto o júri quanto o grande público do festival aprovou a nova tendência. Domingo no Parque ficou em segundo lugar na competição. Alegria, Alegria terminou em quarto. Mas, o sucesso foi tanto que a música estourou nas rádios de todo país e rendeu a Caetano Veloso mais de 100 mil cópias vendidas, número bastante expressivo para época.

Depois que a Tropicália caiu no gosto do público e na boca da imprensa, já em 1968, Caetano, Gil e os Mutantes viraram verdadeiras celebridades. Com freqüência, eram chamados a participar de programas de televisão, principalmente, àquele apresentado por Abelardo Chacrinha, que virou ícone do movimento.

Em maio do mesmo ano, os tropicalistas gravaram um álbum coletivo chamado Tropicália ou Panis et Circensis. Caetano coordenou o projeto que ficou com cara de de manifesto. Canções inéditas de sua autoria, ao lado de outras de Gil, Torquato Neto, Capinam e Tom Zé faziam parte do trabalho. Os Mutantes, Gal Costa e Nara Leão, além do maestro Rogério Duprat, autor dos arranjos, completavam o time vencedor.



Capa do álbum Tropicália ou Panis et Circensis


O disco foi lançado em agosto e compunha o retrato alegórico de um país ao mesmo tempo moderno e retrógrado. Ritmos como o bolero e o baião, ao lado de canções melodramáticas indicavam o intuito tropicalista de enfatizar a cafonice da cultura brasileira. Afinados com a contracultura da geração hippie, os tropicalistas também questionaram os padrões tradicionais da chamada boa aparência, trocando os cabelos curtos pelos compridos e as roupas sóbrias pelas extravagantes.

Antes de fins sociais e políticos, a Tropicália foi um movimento nitidamente estético e comportamental. Com tantas provocações, as reações à Tropicália começaram a se tornar mais agressivas e os confrontos começaram a aparecer. Dentre os mais famosos está o que ocorreu durante o III Festival Internacional da Canção, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo.

Caetano Veloso foi agredido com ovos e tomates pela platéia ao defender com os Mutantes a canção É Proibido Proibir, que compôs a partir de um slogan do movimento estudantil francês. O compositor irado reagiu com um discurso que ficou para a história. "Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?"

Com o crescente endurecimento do regime militar no país, as interferências do Departamento de Censura Federal já eram práticas de rotina. Canções tinham versos inteiros cortados, ou eram mesmo vetadas integralmente. O decretação do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968, oficializou de vez a repressão política a ativistas e intelectuais.

Em 27 de dezembro de 1968 Caetano e Gil foram detidos e com isso a Tropicália se enfraqueceu, embora a morte simbólica da corrente já tivesse sido decretada em reuniões do grupo. Mas, o movimento que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais da época seguiu influenciando grande parte da música popular produzida no país pelas gerações seguintes.


Postado por: Christiane Dias

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Passeata dos Cem Mil

26 de Junho, a passeata dos 100 mil


No dia 26 de junho de 1968, cerca de cem mil pessoas ocuparam as ruas do centro do Rio de Janeiro e realizaram o mais importante protesto contra a ditadura militar até então. A manifestação, iniciada a partir de um ato político na Cinelândia, pretendia cobrar uma postura do governo frente aos problemas estudantis e, ao mesmo tempo, refletia o descontentamento crescente com o governo; dela participaram também intelectuais, artistas, padres e grande número de mães.
Desde 67, o movimento estudantil tornou-se a principal forma de oposição ao regime militar. Nos primeiros meses de 68, várias manifestações tinham sido reprimidas com violência. O movimento estudantil manifestava-se não apenas contra a ditadura, mas também à política educacional do governo, que revelava uma tendência à privatização. A política de privatização tinha dois sentidos: era o estabelecimento do ensino pago (principalmente no nível superior) e outro, o direcionamento da formação educacional dos jovens para o atendimento das necessidades econômicas das empresas capitalistas (mão de obra especializada). Essas expectativas correspondiam a forte influência norte-americana exercida através de técnicos da USAID que atuavam junto ao MEC por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de acordos que deveriam orientar a política educacional brasileira. As manifestações estudantis foram os mais expressivos meios de denúncia e reação contra a subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano.Prisões e arbitrariedade eram as marcas da ação do governo em relação aos protestos dos estudantes, e essa repressão atingiu seu apogeu no final de março com a invasão do restaurante universitário "calabouço", onde foi morto Edson Luís, de 17 anos.
O fato, que comoveu e revoltou todo o país, serviu para acirrar os ânimos e fortalecer a luta pelas liberdades. Durante o velório do estudante, o confronto com policiais ocorreu em várias partes do Rio de Janeiro, sendo que o cortejo fúnebre foi acompanhado por 50 mil pessoas. Nos dias seguintes, manifestações sucediam-se no centro da cidade, com repressão crescente até culminar na missa da Candelária (2 de abril), em que soldados a cavalo investiam contra estudantes, padres, repórteres e populares.
Nos outros estados o movimento estudantil também ampliava seu nível de organização e mobilização; em Goiás, a polícia baleou 4 estudantes, matando um deles, Ivo Vieira.Durante todo o ano de 68 as manifestações estudantis ocorreram, assim como intensificou-se a repressão, até a decretação do AI-5, em 13 de dezembro.



Depoimento de Marcelo Alencar narrando os incidentes ocorridos após o assassinato do estudante Edson Luiz, março de 1969.


Passeata dos Cem Mil na Cinelândia, 26 de junho de 1968.



Cartazes de manifestantes durante a passeata




Palácio Tiradentes - ponto de encontro dos manifestantes da passeata dos Cem Mil, 26 de junho de 1968.

postado por: Érica Domingos P. Marques

A luta não terminou.... O que estamos querendo dizer?????


No final de 68, a repressão ao Congresso da UNE, a prisão dos dirigentes estudantis e a promulgação do AI5, que generalizava a censura e a repressão, marcam a derrota deste primeiro ensaio de luta contra a ditadura. Suas lições, quarenta anos depois, continuam validas para armar o movimento operário e estudantil.

A primeira delas é o potencial do movimento estudantil quando levanta demandas do conjunto da população – abaixo a ditadura! – e se liga a um movimento operário combativo e radicalizado. Esse foi o grande aporte dos estudantes ao movimento operário em 68. A partir das mobilizações estudantis contra a ditadura, influenciadas pelas organizações guerrilheiras e de esquerda, que os operários e a vanguarda combativa que organizava as comissões de fábricas, as lutas e as oposições sindicais, passavam a compreender e assumir a centralidade da luta pela derrubada da ditadura.

O processo de 68 foi derrotado, pois de conjunto esse momento de levante operário e estudantil ficou prisioneiro das duas estratégias hegemônicas. De um lado, a esquerda reformista com seu pacifismo, conciliacionismo e frentepopulismo (PCB). De outro, os novos dirigentes operários e estudantis que combatiam o oportunismo impotente do PCB, não desenvolveram uma estratégia para que a vanguarda operária de Contagem e Osasco se colocasse a cabeça das massas operárias e estudantis de todo o país. Acabaram derrotados ao assumir a estratégia foquista da guerrilha, ao tentar substituir a ação das massas pela ação exemplar de uma minoria. Essas duas estratégias contrapostas não ofereciam à classe operária e ao movimento estudantil que se levantavam contra a ditadura militar uma estratégia revolucionária, de hegemonia da classe operária como dirigente da derrubada insurrecional da ditadura e do enfrentamento à ordem capitalista. Resumindo: poder aos poderosos.




Foi publicado no Globo Online do dia 13/05/08 no caderno de Educação a seginte matéria:


Estudantes cotistas enfrentam dificuldade para se manter na universidade

Publicada em 13/05/2008 às 10h29m

lítica de cotas, a estudante negra Mariana Ferreira de Almeida, de 23 anos, entrou no curso de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Há cinco anos na faculdade, apesar do apoio dos pais, conta que enfrenta dificuldades para continuar estudando.

A aluna mora no município de Niterói e precisa pegar dois ônibus para chegar à faculdade. "Às vezes pego um só e caminho um outro pedaço". A despesa com passagens encarece também o estudo, além dos gastos com livros e os custos com refeição.

"A Uerj não tem 'bandejão' e nenhum outro tipo de auxílio alimentação. Então, quando você tem uma disciplina à tarde e não tem como voltar para casa é um gasto a mais. Ainda mais no meu caso, que moro em outro município", diz.

" A cada semestre os aluno vão desistindo. Os que não saíram, não conseguem ir à universidade todo dia por conta dos custos (Mariana Almeida, estudante) "

A estudante conta que o "aperto" já foi maior antes do estágio e que assim como ela, outros colegas têm dificuldade de se manter no curso. Muitos até trancam a matrícula.

"A cada semestre os aluno vão desistindo. Foram muitos [que abandonaram]. Os que não saíram, não conseguem acompanhar de forma contínua as aulas. Não conseguem ir à universidade todo dia por conta dos custos", explica.

O problema pelo qual Mariana passa é uma realidade em boa parte das universidades, que adotaram a política de cotas no país, cerca de 40 instituições, segundo o Ministério da Educação.

" Havia uma promessa de que os governos dariam suporte às universidades com bolsas, mas isso não aconteceu (Renato Ferreira, Uerj) "

Para o coordenador do Programa Política da Cor da Uerj, Renato Ferreira, apesar do esforço dos alunos, sem a assistência necessária, o sistema de cotas "já nasceu capenga".

"Havia uma grande promessa de que os governos iriam dar suporte às universidades com bolsas, mas isso não aconteceu", disse Ferreira. "Perdemos a oportunidade de implementar programas de ações afirmativas responsáveis, quando não há assistência estudantil", completou.

Outro problema apontado pelos estudantes negros cotistas da Uerj é a necessidade de aulas complementares em cursos como o de línguas, por exemplo. Após o primeiro período, os estudantes não recebem mais a bolsa de R$ 190 e a saída é procurar projetos de pesquisa para completar os gastos.

"Alguns critérios nos tiram dessa seleção. A maioria exige inglês avançado e isso é uma condição que elimina mesmo. Em algumas situações, essa exigência não é muito importante, mas é uma forma de selecionar", critica a também estudante de direito Monique Camilo.

Para o professor Renato Ferreira, além de investir em assistência estudantil é preciso que as universidades acompanhem o desenvolvimento acadêmico dos cotistas e avaliem a necessidade de medidas específicas para eles.


Em 1968 a luta era outra, claro, os tempos eram outros no entanto as dificuldades que se tinham de enfrentar para conseguir uma vaga em universidade pública parece a mesma. O movimento estudantil queria ampliar o ensino, dá-lo por direito aos cidadãos. Assim como o projeto das cotas Pergunta: o que pretende o sistema de cotas nas universidades públicas sendo tão “mal-acabado”, possuindo tantas lacunas? Com esse artigo gostaríamos de deixar o pensamento e entender o que se passa nesse Brasil onde a história muitas vezes parece se “repetir”, claro com pequenas diferenças, mas ainda grandes dificuldades.


Estudando o ano de 1968 absorvemos uma consciência e uma ideologia de pensar no que temos hoje alguma coisa a mais que tinha essa geração passada, apesar de continuarmos os conflitos....

Postado por:
Daiane Monteiro & Daiane Machado