segunda-feira, 9 de junho de 2008

Arte - O Movimento Tropicalista e o ano de 1968

“1968” foi o ano louco e enigmático do nosso século. Ninguém o previu e muitos dos que nele estiveram presentes e participaram entenderam afinal o que ocorreu. Foi como um furacão humano, uma generalizada e estridente insatisfação juvenil, que ocorreu no mundo em todas as direções.

Tornou-se mítico porque foi o ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível. Seria o marco para os movimentos ecologistas, feministas, das organizações não-governamentais (ONGs) e dos defensores das minorias e dos direitos humanos.

Além da indignação geral provocada pela Guerra Vietnamita e o fascínio pelas multidões juvenis da Revolução Cultural chinesa, também pesou na explosão de 1968 a morte de Che Guevara na Bolívia, ocorrida em outubro de 1967. Seu martírio pela causa revolucionária serviu para que muitos se inspirassem no seu sacrifício. Jovens de todas as partes, especialmente na Europa e na América Latina, tentando atender ao seu apelo para que se formassem em outros lugares do mundo, “dois, três Vietnãs” lançaram-se na vida guerrilheira.

No Brasil, estudantes organizavam passeatas contra a ditadura militar. Na arte, o tropicalismo tomou forma definitiva, como um movimento chamado “Tropicália, movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira. Contou com a participação dos cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. Ao unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as idéias tropicalistas acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura nacional.

As músicas em forma de diálogos com obras literárias como as de Oswald de Andrade ou dos poetas concretistas elevaram algumas composições tropicalistas ao status de poesia. Suas canções compunham um quadro crítico e complexo do País – uma conjunção
do Brasil arcaico e suas tradições, do Brasil moderno
e sua cultura de massa e até de um Brasil futurista. Elas sofisticaram
o repertório de nossa música popular, instaurando
em discos comerciais procedimentos e questões até então associados apenas ao campo das vanguardas conceituais.

Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. Em um ano que marcou a eclosão e fechamento de tudo, o movimento não compreendido teve seu final com a prisão de Caetano e Gil, logo após a promulgação do AI-5.

1968 foi mais que um ano, foi um intenso momento de uma revolução que não se socorreu de tiros e bombas, mas da pichação, das pedradas, das reuniões de massa, do autofalante e de muita irreverência. Havia sempre a busca pela luta dos ideias, a esperança de que, diante de todo o esforço, se conseguiria mudar e revolucionar. O Tropicalismo foi somente uma das várias inteligentes idéias para se falar, de maneira irreverente, sobre o nosso país, nossos costumes, nossa sociedade, nossa música, nossa arte, sobre nós. O interessante é perceber que, em um ano em que o mundo passava por momentos tão conturbados, havia ainda o sentimento de conquista, de vontade de mudar, de transformar para o bem comum. E hoje, em outro tempo, 40 anos depois, não se vê luta por nada, com tudo se acostuma. Saudade, de repente, de um tempo que não vivi.

Postado por Helena Quintanilha Silva Santos

*fotos tiradas do site http://tropicalia.uol.com.br/site/internas/movimento.php



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