domingo, 8 de junho de 2008

Mudanças políticas e a literatura Modernista

A GERAÇÃO MODERNISTA DE 1945-1978:
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Considera-se 1945, ano da deposição de Getúlio Vargas, o início de um novo período político-social em nosso país. Trata-se de uma era de “democratização”, que se estende até 1964, quando ocorre o golpe militar.
Nesses quase vinte anos, os fatos históricos que sucedem fazem parte da nossa memória nacional mais recente: o fim do Estado Novo (1945), o afastamento temporário de Getúlio da vida política (1945-1950), seu retorno (1951-1954), a presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), a fundação de Brasília, nova capital do país (1960), as presidências de Jânio Quadros (1961) e de João Goulart (1961- março de 1964).
Adotando modelos políticos populistas, o Brasil tenta encontrar os rumos de seu desenvolvimento. Apesar e grande abertura ao capital estrangeiro proporcionada pelo Plano de Metas do governo Juscelino, será apenas na fase seguinte, com a ditadura militar (1964-1978), que se consolidará o modelo econômico assentado no Estado, nas multinacionais e no capital nacional.
Em 1979, com a posse do presidente Figueiredo, é assinado o decreto de anistia aos presos políticos, implementa-se a reforma partidária e tem início o processo de redemocratização do país.
O tema e a ideologia do desenvolvimento dão cores esquerdizantes ao nacionalismo, bandeira vinculada a direita nos anos 20.
Nesse contexto, renova-se o gosto pela arte regional e popular, cujo potencial revolucionário torna-se objeto de grande atenção. Em contrapartida, as camadas conservadoras reagem sistematicamente contra as manifestações políticas nacionais-populistas.
No cenário internacional do pós-guerra, a Guerra Fria e a ameaça atômica predominam a partir de 1945, dividindo o mundo em sistemas que mutuamente se hostilizam.
Nessa oscilação entre enfatizar o nacional e reprimi-lo, entre resgatar o passado e descobrir o futuro, entre a consideração eminentemente política da necessidade de testemunhar o momento político presente e uma aura quase mítica de entusiasmo generalizado pela mídia e pela máquina – dois fetiches ligados a explosão industrial dos anos 60 tanto na Europa quanto nos Estados Unidos - , nasce o que alguns chamam de “fim do Modernismo” e, outros, de “Neo-Modernismo”.

CARACTERÍSTICAS LITARÁRIAS DA TERCEIRA GERAÇÃO MODERNISTA BRASILEIRA

Do ponto de vista literário, esta geração representa um retrocesso em relação às conquistas de 22: ela propõe uma volta ao passado, com a revalorização da rima, da métrica, do vocabulário erudito e das referências mitológicas.
A geração de 45 é, nesse sentido, passadista, acadêmica, inexpressiva em termos de grandes autores e grandes obras, mesmo abordando temas contemporâneos. Por outro lado, coube a ela introduzir, muito positivamente, uma nova cultura internacional nas letras brasileiras. Autores como Rainer Maria Rilke, Ezra Pound, T. S. Eliot, Fernando Pessoa, Paul Valéry, Frederico Garcia Lorca influenciaram-na significativamente.
Em contraposição a esta produção literária passadista, três grandes escritores se sobressaem: João Guimarães Rosa e Clarice Lispector, na prosa, e João Cabral de Melo Neto, que chegou a pertencer a geração de 45, na poesia.
Além de praticarem a literatura como constante pesquisa de linguagem, como expressão artística pela preocupação formal e estética, tais criadores têm em comum o senso do compromisso entre arte e realidade, o engajamento do escritor e de sua obra na vida social. Assim, retomam a perspectiva nacionalista da primeira fase do Modernismo – a geração de 22 – e também a perspectiva universalista da segunda fase – a geração de 30.
Podem-se considerar os três autores uma síntese de ambas as gerações, já que ao experimentalismo da primeira acrescentam a maturidade artística da segunda, unindo, também, nacionalismo e universalismo.
A sutileza do elo entre fala e o texto transfigurador das narrativas mitopoéticas de Guimarães Rosa, o diálogo com as fronteiras do indizível nos romances e contos introspectivos de Clarice Lispector e a precisão arquitetônica, substantiva, da poesia de João Cabral de Melo Neto retomam e fecundam as experiências modernistas desenvolvidas no país.
Postado por Tatiana de Oliveira Miguez

Nenhum comentário: