segunda-feira, 9 de junho de 2008

1968: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer..."

Ao fazermos um breve comparativo entre os anos de 1958 e 1968, nos deparamos com uma mudança radical de perspectivas: enquanto 1958 foi um ano marcado pelo otimismo, oriundo do desenvolvimento sócio-econômico, das vitórias no esporte e da esperança por dias melhores, o ano de 1968 pode ser chamado de “o ano do medo”.

Em março de 1968, o estudante Edson Luís foi assassinado pela ditadura militar, quando apenas participava de uma manifestação pela reabertura do restaurante universitário O Calabouço. Motivo fútil, que gerou uma grande revolta entre os estudantes, levando-os, além de ocupar a Assembléia Legislativa para velar o corpo, a realizar um grande protesto, durante o enterro de Edson. Esse foi o início de uma série de passeatas por todo o país contra a violência e a falta de democracia. Muito mais do que apenas uma movimentação pela reforma universitária, era um protesto contra a ditadura.

Além da esfera político-social, houve profundas rupturas nos valores, comportamento, moral sexual e direitos civis naquele período. Foi uma verdadeira revolução de costumes, que atingiu até mesmo as expressões artísticas da época. A “quebra” do autoritarismo, com significativas mudanças, se estenderam até as relações entre pais e filhos, marido e mulher, e até mesmo entre professores e alunos, buscando uma maior igualdade entre os mesmos. Ainda que lentamente, mesmo afetadas pela ditadura, essas mudanças foram de grande importância para uma consciência coletiva de que não se podia continuar vivendo da mesma forma, nos mesmos moldes de antes.

Esse descontentamento com a ditadura gerou em seqüência seguidas manifestações e passeatas, numa clara demonstração da organização dos estudantes. Podia-se ver refletido nos atos estudantis o descontentamento e a oposição da própria sociedade em relação à ditadura. E surgiram novos conflitos, com a repressão acirrada por parte da ditadura, resultando em novos confrontos, com saldos terríveis. Entre eles, a chamada Sexta-Feira Sangrenta, no Rio de Janeiro.

Mas tamanha força de expressão estava com seus dias contados: em 13 de dezembro de 1968, foi decretado o Ato Institucional Número 5 (conhecido como AI-5), pelo governo do presidente Costa e Silva. Era o fim absoluto da democracia, levando o país a um dos seus períodos mais difíceis. Devido à violência política praticada pela ditadura a partir daí, tornou-se praticamente impossível qualquer manifestação da oposição. Ainda assim, grande parte de dirigentes de organizações e líderes estudantis continuaram agindo na clandestinidade. A luta ainda não estava vencida... No entanto, nos anos seguintes, vários daqueles jovens que atuaram contra a ditadura foram mortos em confronto, ou foram assassinados e seus corpos jamais foram localizados.

Teria sido tanto esforço em vão? Com certeza não. Mesmo não tendo conseguido derrubar a ditadura, o movimento estudantil de 1968 alcançou outras vitórias, como a continuidade da existência de universidades públicas no país, além de outras reinvindicações conquistadas posteriormente.
E é fato que os acontecimentos da época repercutem até hoje, como por exemplo através do movimento negro ou dos homossexuais, sempre lutando pela igualdade de condições e contra o preconceito. É certo que esbarram em oposições, que sempre existiram e sempre existirão, mas conseguem, a cada dia, minar com a intolerância e desigualdade, conscientizando a população sobre a importância de se respeitar o próximo, independente de seu credo, raça, opção sexual ou quaisquer outras diferenças que possam existir entre eles.
Postado por Isabel Cristina Machado Silva de Oliveira

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